Olá! Falar das histórias em Quadrinhos é algo que me dá prazer! Ainda mais porque eu acompanhei o crescimento de artistas iniciantes que se tornaram verdadeiros mestres dos quadrinhos nacionais. Em meados de 67 por exemplo, eu vivia na redação de Horley Chiodi. Ele era dono da “O Livreiro”, que ficava no Brás (em São Paulo). Edmundo Rodrigues tinha passado a trabalhar para a Editora e me chamou para letreirar revistinhas. Foi uma experiência única. Era muito trabalho. Eu ainda ajudava nos correios, no setor de cartas enviadas para redação. Nessa época pude receber cartas de desenhistas que estavam começando e que hoje se tornaram grandes mestres dos quadrinhos nacional.
Entre todos que escreviam, estavam os irmãos Portela pedindo orientação ao artista sobre suas técnicas de sombreados e de Nanquim. Hoje vejo todos esses como verdadeiros vencedores de quadrinhos.
Tive a oportunidade de conviver om Sérgio Lima, que trabalhava para o Miguel Falcone Penteado. Estive na casa dele em São Paulo e pude ver na cozinha uma mesa muito grande, de um lado papéis de desenho e do outro lado, desenhos prontos. Curiosa, perguntei: - você desenha aqui e corre para o outro lado para colocar letras?
A mãe dele logo respondeu:
- Eu sou a letrista dele!
Achei bacana! A dupla de mãe e filho desenhando e letreirando juntos. Na editora Gep tive a oportunidade de conhecer muitos artistas que frequentavam todos os sábados um barzinho, no Lava pés. Estive na casa do Jayme Cortez, em São Paulo, na Peixoto Gomide. Ele morava numa elegante casa nos Jardins. Estive lá num jantar. Ele elegantemente me mostrou sua casa e o que me deixou espantada foi que ele tinha construído um estúdio no segundo andar, bem no alto da escada.
São Paulo era ladeado das maiores editoras do país: Gep, Estevão La Selva, Taika, O Livreiro e outras! Manoel Cassole era um dos mais importantes da Taika, o que contratava os artistas. Os três números da Revista Irina Bruxa, um dos Ícones dos quadrinhos, foi publicada lá. A história é de uma bruxa que, ao ser caçada para morrer, se refugia na tela de um pintor. Tempos depois, numa galeria de quadros, onde dois jovens saem à procura de um tema para monografia, o rapaz sente-se atraído pela tela... quando percebe que dois olhos na tela pairavam fixos sobre ele. Desesperado o jovem fica relembrando os olhos. Não conseguia esquecer! Ele resolve então pesquisar para saber quem era a mulher da tela e descobre a Irina, A Bruxa, que prende o jovem em encantamento com danças e rituais macabros até transmigração de alma. Realmente surpreendente!!!!
Ela realmente afrontou na ditadura militar, as mulheres de 1964 não andavam assim!
Lembro também que, naquela época, não costumavam assinar as revistas, pois os artistas tinham medo de serem presos durante o período da censura (ditadura Militar), foi um período muito difícil, faltava até papel para imprimir as revistas. O carrasco também foi publicado lá, na Taika, e com sucesso. Foram apenas também 03 números, pois os editores tinham que substituir as revistas nas bancas quando a Polícia Federal dava "batida" para confiscar as revistinhas que não estavam de acordo com os códigos de publicação da época.
É.… foi realmente um tempo maravilhoso. Ainda hoje, quando me lembro do que vivi, vi e ouvi, quando me lembro das pessoas importantes, dos mestres com quem convivi, Sempre chego à mesma conclusão: que sorte eu tive! Afinal, eu vi a história dos quadrinhos sendo contada por personagens que hoje são verdadeiras lendas.
Ágata Desmond
Presidente da ABRAHQ
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