QUADRINHOS, QUESTÃO DE SENTIMENTO!
André Carim
Todos somos movidos por algum sentimento, seja ele bom ou ruim, e não poderia ser diferente no mundo dos quadrinhos nacionais. A verdade é que, bem no fundo, todos nós nutrimos um amor especial por determinado personagem, seja ele de humor, de terror, de suspense, policial ou com superpoderes.
A verdade é que em cada momento de nossas vidas, uma preferência toma conta da gente e nos faz seguir por algum caminho. Quem disse que não sabe o que é uma HQ estaria mentindo, poderia ser considerado um alienado, pois ela está em todo lugar e, hoje em dia, o seu acesso se tornou ainda mais fácil.
Quem viveu a produção de HQs no Brasil na década de 1980/1990, deve lembrar das dificuldades encontradas por editores, criadores, autores, enfim, por todos que militavam no meio alternativo e profissional de HQs. Sucesso mesmo víamos em Maurício de Souza e Ziraldo, dois ícones das Histórias em Quadrinhos nacionais, que desfilavam seus personagens pelas bancas de jornais e revistas, bem como na TV. Foram importantes para toda uma geração que crescia se divertindo com as aventuras de Mônica e Cebolinha e também do Menino Maluquinho.
Mas, os quadrinhos no Brasil se resumiam somente a estes criadores? Claro que não, mas a verdade é que os demais artistas viviam quase que na marginalidade. Somente quem conhecia o Universo Underground e o movimento fanzineiro alternativo é que podia dizer que conhecia de fato quadrinhos nacionais de outros temas.
A riqueza das produções se limitava a cópias mal-acabadas, amadora mesmo, onde não contavam com o dinheiro das grandes editoras nacionais, que preferiam publicar HQs estrangeiras e bombardear as crianças com heróis e personagens dos EUA e Europa. Não que os quadrinhos feitos nesses países fossem ruins, pelo contrário, até hoje encantam milhares de pessoas pelo mundo, mas pelo fato de não deixarem a indústria de quadrinhos nacionais, feitos por artistas brasileiros, mostrasse a sua cara.
Ainda hoje é assim, uma luta quase diária para conseguirmos encontrar HQs brasileiras de qualidade. Os projetos são muitos, como esse aqui do Múltiplo, ou os apoiados no Catarse, quase sempre não alcançando o valor para se publicar o material, limitando a poucos de sucesso. Como explicar que um Júlio Shimamoto não encontre o espaço que ele merece? Mesmo valorizado e reconhecidamente um mestre dos nossos quadrinhos, Shima, como gosto de chama-lo carinhosamente, é um dos exemplos da falta de reconhecimento das grandes editoras (que hoje nem tão grandes são mais).
A qualidade dos nossos quadrinhos, seja nos desenhos, seja nos roteiros, arte final, cor, enfim, é a mesma dos quadrinhos importados, só que é nossa, faz parte da nossa cultura e mostra tudo que o Brasil tem de bom e ruim. É um retrato do nosso povo, uma caricatura dos nossos políticos, uma esperança de que as coisas podem melhorar.
Fazer quadrinhos no Brasil... dá para viver de quadrinhos? Não para todos, infelizmente. Publicar HQs no Brasil é uma luta imensa, onde os apoios não chegam, onde as críticas deveriam ser construtivas, onde deveríamos apoiar o artista para que ele desenvolva o seu trabalho... mas não é bem assim que acontece. Tirando uns poucos que já conquistaram o seu espaço e conseguiram colocar seus personagens no topo da preferência dos leitores, a grande maioria ainda corre atrás de reconhecimento.
Reconhecimento este que só virá quando o nosso povo, o nosso leitor, começar a apoiar mais, criticar sim, mas de forma educada e com o objetivo de fazer o artista se desenvolver. A maldade de alguns chega a “matar” o sonho e a vontade do artista de continuar, de crescer, de mostrar a sua cara e a cara do Brasil.
E olha que projetos não faltam, pessoas do bem que buscam o mesmo objetivo e que apoiam o artista iniciante a tal ponto de ele vir a se tornar um mestre dos quadrinhos. Mas mesmo assim falta mais, falta você, falta aquele incentivo que somente o leitor pode dar.
O editor precisa estar atento ao material de qualidade que bate à sua porta todos os dias, para que não percamos ainda mais artistas e HQs de qualidade, para que estes anônimos cheguem até o grande público.
A mentalidade está mudando, um pouco por culpa dos eventos de grandes proporções, como a CCXP, que movimenta os fãs de quadrinhos. E as exposições se espalham pelo país, com artistas e fãs preocupados com o divertimento que as HQs podem trazer, mas que podem também ser importante fator social para tantas pessoas.
Uma forma de incluir, de trazer mais para perto de todos o talento e a vontade que o artista brasileiro tem. Ainda é pouco. Mas foi dada a largada para que a realidade mude a favor do artista nacional. Por isso, meu amigo, abra bem os olhos que os Quadrinhos Nacionais estão pedindo passagem...
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