quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Entrevista com E. C. Nickel, por Lancelott Martins - MÚLTIPLO # 22 - AGOSTO DE 2018

E.C. Nickel por E.C. Nickel. (aqui, fale um pouco de você, quando começou nos Quadrinhos, suas preferências, etc...)
Quadrinhos foram e ainda são uma grande paixão minha. Na infância, assim que aprendi a ler, com uns cinco anos, devorava todo livro ou revista que aparecia na minha frente. Meu pai também era um grande leitor e me fornecia farto material. Assim que tive contato com minha primeira revista em quadrinhos (deve ter sido algum Pato Donald ou Mickey) foi paixão à primeira vista. Daí para tentar criar alguma coisa foi uma consequência natural e parece que eventualmente fui bem-sucedido, já que consegui ter trabalhos publicados, né?

Nickel, você esteve presente na maioria das editoras emergentes no Brasil como a Grafipar, Vecchi, Press, Abril e ICEA e em outras mídias autorais e independentes... Como se deu sua entrada neste cenário? O que você encontrou de receptivo? Foi bom para sua arte?
Claro que ter trabalhos publicados é bom e, inevitavelmente, leva a um aprimoramento das habilidades. Hoje me considero um artista imensamente melhor do que quando iniciei e isso, é óbvio, ocorre com todos, em qualquer atividade. Comecei na Grafipar, com algumas histórias de terror e Ficção Científica e, logo a seguir, na Vecchi que vivia um grande momento, com óti-mas vendas de revistas desses gêneros. Da ICEA prefiro nem fa-lar... Na Press tive meus melhores momentos, com várias capas e histórias publicadas. Na Abril tive apenas um roteiro publicado, na ótima revista Aventura e Ficção, desenhada pelo maior de todos os autores brasileiros, meu amigo Mozart Couto!

Nickel, seu traço é marcante e tem uma leitura dos artistas de década de 80, e de certa forma peculiar, tem muita personalidade e é como se fosse uma assinatura que já o identifica como – “este é do NICKEL! Sua escola natural teve influências, creio, de vários artistas? Algum em especial?
É curioso, o Shimamoto me disse a mesma coisa, mas eu não con-cordo. Se você observar bem, verá que meu desenho varia muito de história para história. Principalmente agora que venho utilizando o computador para todas as etapas do trabalho, é muito tentador ficar experimentando com vários pincéis digitais e softwares. Além disso, absorvi muitas influências através do tempo. O estilo de vários artistas e roteiristas da Warren influenciaram muito meu trabalho. Dos americanos, cito como influencias Jack Kirby, John Buscema, Gene Colan e o maior de todos, o genial Barry Windsor-Smith (Ops! Este é inglês!). Aliás, os europeus, que só fui conhecer mais tarde são hoje os meus favoritos. Só pra citar alguns: Moebius, Bilal, Caza, Bourgeon... Também sou fã de vários artistas argentinos como Enrique Breccia e Eduardo Risso. Dos brasileiros, tenho que citar novamente o Mozart Couto, cujo talento está além de qualquer adjetivo! Ultimamente, tenho acompanhado com muito entusiasmo o trabalho de Frank Qui-tely, que desenha belas figuras, com um traço leve e muito ex-pressivo.
Você também é um exímio roteirista... Escrever para você é um exercício de criatividade? Onde você mais busca suas inspirações? Você tem material publicado em vários gêneros nos quadrinhos. Tem preferências por gêneros, tipo, ficção, terror, romance, super-heróis, etc.?
Obrigado. Acho que escrevi alguns bons roteiros, sim. Gosto principalmente daqueles que oferecem um final surpresa, algo capaz de impressionar o leitor e motivá-lo a pensar, de causar aquela sensação de estranheza e possibilitar uma fuga de um dia cansativo e tedioso. Meu gênero favorito é a Ficção Científica e, por consequência, os Super-heróis. Também gosto muito da fantasia heroica ou espada & feitiçaria.

Você foi um dos primeiros artistas, no Brasil, a se utilizar do Quadrinho Digital. Basta lembrar que uma de suas maiores criações – ULTRAX, surgiu no QUADROID, em PDF e foi o herói mais popular, sem ter uma única re-vista impressa, naqueles idos... Fale-nos dessa experiência.
Realmente, fui um dos primeiros autores a disponibilizar seu trabalho na Internet, para download. A ideia era tornar o personagem Ultrax conhecido para despertar o interesse de alguma editora disposta a publicá-lo impresso. A primeira parte até que foi bem-sucedida, mas a segunda, infelizmente, nunca aconteceu. De qualquer forma, recebi muitos elogios e uma resposta muito boa dos leitores. Vários deles me enviaram desenhos com suas versões do personagem, alguns deles ótimos artistas.
Como foi, também, publicar no exterior no site gringo Midnite Comics? Com seu material traduzido? Foi uma boa experiência? Produziu resultados?
O Midnite Comics foi uma boa experiência, apesar de ter tido vida curta. Foi legal trocar experiências e conhecimentos com os dois bons roteiristas que criaram o site: o norte-americano Oscar Cavazos e o inglês David Berner. Posteriormente, David criou seu próprio site, o Broken Voice Comics, que publicou diversas histórias minhas e ele me encarregou de desenhar o segundo volume de sua epopeia super heroica, Shades. Foram 100 pági-nas de uma história muito bem escrita, no estilo dos melhores autores ingleses de quadrinhos. Ele me pagou por esse trabalho e o publicou impresso, numa edição independente. É um roteirista talentoso e tem ideias muito claras sobre o resultado esperado. Foi muito bom trabalhar com ele.

Você tem grandes parceiros e fantásticos, e aqui destaco o Alexandre Lobão. Este parece ser um dos grandes legados de trabalho feito em conjunto nos Quadrinhos, que ainda hoje se mantém... É importante parcerias para se produzir hoje (e ontem) no Brasil?
Parcerias sempre acrescentam, e muitas vezes geram uma sinergia, onde o todo é maior que a soma das partes. É o caso da minha parceria com o Alexandre. Ele foi de grande ajuda para moldar as características do Ultrax, com ideias que nunca me teriam ocorrido. Ele é, sem dúvida, o co-criador do personagem. Além disso, criamos juntos o Stone, o Mercenário, e, também, ajudei bastante na elaboração do roteiro de Fiat Voluntas Tua. É pena que, atualmente, ele esteja envolvido com vários projetos literários e disponha de pouco tempo para dedicar aos quadrinhos. Mas, com certeza, voltaremos a criar algo juntos.

Fale-nos de ULTRAX... Como surgiu a ideia de um personagem tão inusitado e cheio de humor, diante de uma tragédia, que o transformou em um “super”. Vimos que, na Editora ONDAS (1991), você publicou um personagem (eu gostei muito) chamado: ULTRAX, meio que uma sátira sobre o gênero “super-herói”, foi o ponto de partida? E ainda dentro dessa pergunta, fica claro no seu roteiro do ULTRAX, a sua incursão, com o que chamamos hoje de easter eggs, citando vários ícones de diversas mídias, foi proposital?
Como já disse, daquela história aproveitei apenas o nome do personagem, e era pra ser apenas isso, uma sátira. Aliás, tentei me retratar como o autor dos quadrinhos que aparece na história. O final é bem divertido, não acha? Ultrax foi incubado por vários anos e o que acho mais interessante nas histórias é a interação dele com a Inteligência Artificial que ele chama de Ziggy. As formas holográficas que Ziggy assume ao conversar com Ultrax são encontradas por ele na Internet e em transmissões de TV e são homenagens que presto a alguns ícones da cultura popular.
Outro grande personagem surgiu no gênero Terror - Ophidya, A Rainha Serpente. Esta saiu na revista Spektro/Sobrenatural/Vecchi, marcando muito os leitores do gênero. Uma personagem formidável. Tem algum material inédito dela?
Não produzi mais nada da Ophidya, além daquelas histórias publicadas pela Vecchi. Apesar de gostar daqueles roteiros, acho que ainda desenhava muito mal na época. A parte artística dei-xa muito a desejar.

Piloto Androide e Stone, continuam com HQs produzidas? O QUADROID continua disponibilizando material inédito?
Stone depende de o Alexandre escrever um novo roteiro. Já temos dois álbuns produzidos e gosto muito de desenhar as histórias dele. O Piloto Androide é uma criação minha e tenho uma noção muito clara da sua personalidade e de como ele pode agir em diversas circunstâncias. Sendo uma criação muito pessoal, acho que só eu mesmo posso escrever seus roteiros e tenho algumas ideias que pretendo desenvolver no futuro. Possivelmente postarei algum material inédito no meu blog: quadroid.blogspot.com.br
Você tem o Alucinado e o Brutus... Eles esmagam? Ahahah!!!
É, sempre tive vontade de desenhar histórias do Hulk... Talvez um dia, quem sabe? Enquanto isso, crio meus próprios montes de músculos e raiva!

Suas homenagens aos grandes ícones, como Lee, Kirby, parece ser proposital. Você gosta dos comics? Qual o papel dos comics na sua formação como roteirista e artista?
Os comics, principalmente os da Marvel, tem grande papel na minha formação como autor de quadrinhos. Como já citei, diversos artistas da “casa das ideias” são influências ontem, hoje e para sempre: Windsor-Smith, Kirby, Buscema e Colan são os principais.
Por fim, fale-nos de seus projetos, de você e de que mais achar pertinente. Eu, aqui como seu entrevistador, quero lhe dizer que sou um grande fã seu, do seu trabalho, dos seus personagens, do seu texto, dos seus parceiros e muito grato por ter a honra de conhecê-los. Abração Mestre!
Grato pela oportunidade de mostrar mais um pouco do meu trabalho e desejo sucesso em seus esforços em prol dos quadrinhos brasileiros.
Grande Abraço.

Agradecimento especial ao Lancelott Martins, que além das formatações de páginas, capas e divulgações que tem feito para o Múltiplo, sempre que possível se dispõe a trazer entrevistas e material de relevância para os nossos quadrinhos. Essa entrevista foi realizada por ele e agradeço também ao amigo E. C. Nickel pela pronta disposição em responder à entrevista e nos mostrar o seu material de primeira, resgatando assim mais um importante personagem da nossa HQ. Obrigado e o Múltiplo es-tará sempre aberto aos grandes mestres dos nossos quadrinhos e, também, aos artistas iniciantes que demonstram todo o seu talento nessas páginas.

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