Fanzine e quadrinhos,
Combinação de sonhos...
Quem nunca, quando criança, colecionou revistas em quadrinhos? Inúmeros eram os personagens, Turma da Mônica, Chico Bento, Mickey, Donald, Tio Patinhas, Heróis Marvel e DC como Thor, Homem Aranha, Superman, Mulher Maravilha... opções não faltavam nas bancas de jornais. Na minha época de menino, ficava ansioso pelos domingos, após a missa tradicional das manhãs, uma visita ao jornaleiro era de praxe e quase uma obrigação. Folheava as revistas em busca daquela que iria levar para casa. Minhas escolhas eram sempre os heróis, preferencialmente os da Marvel, HQs pelas quais sou apaixonado até hoje.
A banca de jornais da cidade era metade do caminho da escola até minha casa, e todos os dias a parada era obrigatória. Enquanto um amigo se divertia em busca de revistas de automobilismo, F1, eu corria para a seção onde ficavam os gibis. Cheguei a ter mais de 500 revistas Marvel na minha coleção. Homem Aranha e A Espada Selvagem de Conan, o Bárbaro, eram as preferidas e tinha a coleção completa. Mas tinha também do Thor, do Capitão América, X-men, Hulk, entre outras na coleção. Uma pena que a coleção se perdeu com o tempo, hoje seriam relíquias...
Na adolescência comecei com a produção de fanzines, feitos artesanalmente, e contatava os colaboradores através de cartas, o que demandava muito tempo entre a chegada dos desenhos e a edição do fanzine... A descoberta deste fascinante mundo veio com o “Repórter HQ”, publicado pelo Antônio Roque Gobbo, da Biblioteca de Histórias em Quadrinhos de Belo Horizonte, fanzine que era “comprado” em selos e enviado mensalmente pelos correios e as edições, às vezes, demoravam semanas para chegar, e a ansiedade por receber o fanzine crescia. A montagem e publicação desses fanzines fazia crescer a admiração por vários artistas também. Havia troca de fanzines, eu enviava os meus e quem produzia também retornava com os seus... ainda posso folhear fanzines como o Guasca, do Sul do país, onde seu editor, Nei Lima, fazia as capas desenhadas a lápis de cor. Ou ainda como o Cabal, do Clodoaldo Cruz, surgido bem depois e já com uma “tecnologia” mais aprimorada de produção e arte. Só sei que, muitas vezes, só precisávamos de tesoura, papel e cola para montar um fanzine... alguns efeitos especiais como letras, nome da edição, periodicidade, número da página, autor, eram feitos no computador e impressos, depois recortados e colados na página. E assim, já pronto, o fanzine ia para ser xerocado. Muitas vezes as cópias não saíam bem, manchadas, faltando pedaço, mas a vontade e a realização eram maiores que uma frustração em não conseguir editar da maneira como se visualizara na mente.
Com o passar do tempo a tecnologia permitia uma melhor elaboração do periódico, e o fanzine se tornava colorido, com impressão melhor das cópias... mas não havia apoio local para produção em massa, e com as responsabilidades da vida de adulto vieram a escassez cada vez maior da produção. Não sobrava muito mais tempo para aquela rotina de montagem, nem para o contato através de cartas. E ficou somente a vontade de produzir novamente.
Amizades se fortaleceram na época, pelo respeito com o trabalho do outro, e também pelas preferências que se solidificaram. Amantes de uma arte milenar. Histórias em Quadrinhos. E veio a era da internet, onde muitos desses amigos migraram para as redes sociais, para os blogs, para as páginas onde seus personagens ganharam nova vida, e mesmo ausente dos quadrinhos por longo tempo, eu acompanhava o surgimento de novas mídias e de novos personagens, além de ver revigorados antigos personagens, que por traços de ícones do quadrinho nacional, se mantiveram na preferência dos amantes daquela época.
Hoje podemos ver HQs e fanzines online, ao alcance de um click do mouse e com visual muito mais bonito, produções de primeira e arte valorizada através de máquinas modernas, como as impressoras à tinta, laser e também por scanners, onde a arte do papel passa para o monitor, e pode ser compartilhada na velocidade de um piscar de olhos.
Saudades daquele tempo, onde o amadorismo se configurava de verdade, as dificuldades de produção nunca eram motivo para se desistir... um lamento apenas porque hoje, com tantos recursos, há poucos profissionais que queiram realmente contribuir para movimentos de fanzines... um respeito enorme pelas amizades cultivadas que até hoje rendem belos trabalhos e edições tão especiais quanto aquelas feitas com tesoura, cola e papel, além, claro, de lápis de cor e caneta nanquim... um desejo enorme que este fanzine, retornando depois de 16 anos ausente do cenário, se fortaleça e se torne um ponto de encontro dos amigos de antes e dos novos amigos que estão chegando...
Por André Carim
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