sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
Tiras, Quadrinhos Sim! - Múltiplo 4
Tiras, Quadrinhos Sim!
Por André Carim
Quem nunca se divertiu com as tiras dos jornais de domingo, onde, na maioria das vezes podíamos nos deli-ciar com nossos personagens preferidos em histórias em quadrinhos, sequenciais ou não? A verdade é que essa forma de expressão tomava conta de muitos fãs dos personagens de HQs e nos traziam uma certa leveza, principalmente se eram de humor, e eu, particularmente, acompanhava fiel-mente aquela que mais gostava (ainda hoje é assim, como o Coelho Nero do amigo Omar Viñole, que me diverte muito), e muitas vezes ficava triste ao perder alguma sequência.
Como diz Bira Dantas na sua resposta ao meu questionamento sobre tiras, e eu concordo com ele, deve dar um trabalhão imenso manter a sequência de alguma HQ nesse formato. Como prender a atenção do leitor e fazer com que ele queira acompanhar diariamente, ou duas vezes por semana, ou mesmo apenas uma única vez, seu personagem preferido em aventuras sequenciais e sem saber quando chegará ao fim?
Bira Dantas considera as tiras uma forma trabalhosa e prazerosa:
“Eu considero as tiras diárias como uma das formas mais trabalhosas e prazerosas de se fazer Quadrinhos. Apesar do estilo quase total de se produzir Tiras seja a de piadas cômicas de tira única (com começo, meio e fim), me agrada muito produzir tiras com histórias sequenciais (como nos primórdios das Comics Strip), linha seguida nos anos 80 por Luiz Gê nas tiras do Presidente Reis. O que mais me atraía no Tatuman era começar uma série sem saber como ia aca-bar, como com Jerônimo (o herói do sertão), o Eternauta (do argentino Oesterheld), com TEX (Bonelli e Gallep) ou com a Turma do Pererê (do Mestre Ziraldo) (Bira Dantas) ”
A grande verdade é que as tiras têm o seu lugar no coração de quem gosta de HQs. Como diz Edgard Guimarães em sua resposta, o espaço que elas tinham nos jornais era grande, havia uma valorização desse tipo de publicação (como podemos lembrar do Jornal O Globo, onde havia uma seção inteira somente com tiras de personagens de HQs). E acredito também que muitos artistas, pelo pouco tempo que têm em seus dias corridos, se utilizam desta forma de ex-pressão para marcar sempre uma presença do seu trabalho, seja nas redes sociais (posso citar como exemplo a Jambalaya, do Laudo), seja em fanzines e revistas de HQs.
Edgard Guimarães assim definiu as tiras:
“A tira já foi um meio bem mais importante do que é hoje. Seu espaço nos jornais era muito mais valorizado. Mas existe ainda um atrativo neste formato de História em Quadrinhos que leva muitos autores a usá-lo, mesmo sendo muito pequeno o espaço para publicação. Eu tenho feito várias séries neste formato, como 'Ju & Jigá' e 'cotidiano alterado', mais por tradição, mas note que eu faço sempre com 4 quadros de tamanhos iguais, para facilitar publicar cada tira numa página, com os dois primeiros quadros em cima e os dois últimos embaixo. Assim, os desenhos não ficam muito reduzidos, já que os faço com bastante detalhes. ”
Cada um tem a sua preferência quando se trata de tiras de HQs, e a minha é por tiras de humor, onde po-demos brincar com o nosso cotidiano, com os problemas que nos afligem e com as coisas boas também. Elas me divertem e aliviam um pouco o stress dos dias corridos. As tiras são sim um exercício de criatividade, mas não somente para o artista que as produz, mas também para quem as lê. Têm vida e nos fazem refletir sobre diversas coisas com uma ma-neira gostosa.
Henrique Magalhães:
“Para fazer uma tira basta ter uma boa ideia, que seja algo ao mesmo tempo surpreendente e inovador. A tira joga muito com a linguagem, seja escrita ou visual. Gosto de tiras porque são um ótimo exercício de síntese e criatividade. ”
No nosso dia-a-dia, por mais corrido que seja, sempre tem aquele momento de humor ou de transtorno, aquela inspiração que pode ser vista em muitos personagens de tiras, sejam eles internacionais ou, no caso do Universo Alternativo, na maioria das vezes, de artistas nacionais, caricaturistas ou apenas desenhistas, que se aventuram por esse mundo e nos fazem aventurarmos junto deles. O desta-que na minha opinião para isso é o Coelho Nero, do amigo Omar Viñole, que retrata o bom humor de muitos de nossos artistas.
Omar Viñole
Olha, para fazer uma tira acho importante você estar bem antenado com o que está acontecendo com o mundo, com as coisas ao seu redor. Tudo pode virar algum assunto para fazer uma tira. Seja política, cotidiana, filosófica, etc... As tiras podem ser reflexivas, fazem você pensar sobre o assunto abordado nelas que pode ter a ver com você, ou com o seu país ou alguém que você conhece ou com o mundo. Na maioria das vezes a tira sintetiza, quase sempre no humor, nossos problemas.
Tudo que tenho visto, seja HQ de várias páginas ou apenas uma, tiras de um, dois, três e até quatro quadros, demonstra a criatividade do nosso artista, do produtor, digamos assim, de quadrinhos. A qualidade demonstra-da, a vontade de estar perto do leitor e interagir com ele no dia-a-dia. Provocando nesse mesmo leitor a vontade de cri-ar junto com o artista. A verdade é que, por mais que se passem os anos e as tiras tenha o seu espaço limitado na grande mídia, elas representam um papel fundamental de inclusão para muitas pessoas que delas tiram o bom humor para enfrentar as adversidades, bem como o estímulo para não deixar a peteca cair.
É como se o personagem que ali está ganhasse vida dentro da gente, e a criança, há tanto tempo adormecida, pode novamente sorrir com essa arte sequencial e fundamentalmente cativante.
Laudo Ferreira Jr. e o seu amplo acervo de tiras:
Apesar de desde o início de minha carreira nos quadrinhos eu ter criado algumas tirinhas, mais especificamente falando uma série chamada “A voz do louco”, a qual publiquei em diversos meios, desde fanzines, até revistas e jornais, inclusive fora do país, nunca me considerei um autor de tirinhas, um cartunista, mesmo tendo tido tremenda influência da santíssima trindade Laerte, Glauco e Angeli. Se for para me definir, sou um desenhista e sou um contador de histórias. Nunca pensei na piadade contá-la em três tempos como tirinhas, meu modo de pensar e criar sempre caminhou por histórias curtas ou longas. A partir do momento que criei a série de tirinhas “Banda Mamão” há alguns anos atrás (nome oriundo de um blog pessoal), comecei a trabalhar em tirinhas para exercer duas questões a mim importantes: publicando essas tiras semanalmente num blog, eu mantinha aceso o contato com o leitor diretamente, numa periodicidade, ao invés de hiatos de um a dois anos, tempo que se leva entre criar, desenhar e publicar um álbum. E segundo, existe um exercício de criação que me é muito interessante, do qual comento melhor daqui a pouco. Durante a produção das tirinhas do “Banda Mamão”, criei uma outra série dentro deste título que foi “David Escarlate”, um herói espacial bem nos moldes de ícones como Flash Gordon e Buck Rogers. A ideia não era fazer uma paródia, mas contar a história dentro de uma premissa descompromissada e para isso essas histórias seria-das nas tirinhas, ou como eu batizei: tirinhas episódios, não teriam um roteiro, a ação toda seguiria um fluxo de pensamento, ou seja, a história se conduziria de acordo com a reação dos leitores. Curiosamente, acredito que pelo fato da coisa toda ser feita descompromissada, o personagem caiu muito no agrado, o que acabou levando a finalização das tiras do “Banda Mamão”, para que então eu criasse um blog o qual batizei de “Quadro Imaginário”, onde ele traria essas aventuras em tirinhas episódios. Veio então, a segunda aventura do herói, “Missão Ampulheta Quebrada” e a nova heroína presentada, “Jambalaya, a rainha da Selva do Fundo do Quintal”, esta, fazendo homenagem às heroínas de aventuras na selva, como Shenna, entre tantas outras que existem. Então, a criação destas duas séries, à princípio, pois existem outras ideias para frente, é que exista uma premissa, um fio condutor, digamos assim, porém, como disse anteriormente, a história segue um fluxo de pensamento, embalado tanto pela reação do público, como pelo que minha cabeça dita conforme as semanas vão passando. O fato de ter entre uma a duas tirinhas episódios publicados semanalmente, faz com que eu me limite ao ritmo semanal para dar andamento à trama, em contrapartida, vai proporcionando que eu reinvente coisas e crie no-vas para a trama, e mesmo tire o leitor de seu campo de sossego e leve-o para algo inesperado. No formato três, quatro tirinhas, também não me vejo obriga-do a fechar uma sequência ou uma cena, tudo vai correndo conforme aquele mo-mento criado para trama permite, ou seja, há várias tirinhas episódios em que o conjunto da tira fecha uma cena, mas há muitos que não, pois existe a permis-são, digamos assim, que a cena pede, portanto estendo a sequência, às vezes, por duas ou mais tirinhas.
Novos personagens irão surgir para se juntar a tantos outros que povoam as páginas de jornais, revistas e produções independentes, bem como se manifestam on-line através de blogs e redes sociais, com uma resolução cada vez melhor, com um roteiro mais apurado. Tiras, seja de uma, duas, três ou mais quadros, importante na divulgação das Histórias em Quadrinhos.
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