sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Formato nos Quadrinhos - Edgard Guimarães - Múltiplo 1

FORMATOS NOS QUADRINHOS
Vou tratar de um assunto que muitas vezes o quadrinhista não dá importância ao planejar sua HQ: o formato da página e a distribuição dos quadrinhos na página. Se já é sabido que a HQ vai ser publicada numa revista, então basta saber o formato da página (que não varia muito entre as revistas), e o tamanho, o número e a distribuição dos quadrinhos na página podem ser quaisquer. O quadrinhista pode exercitar a criatividade na composição da página. Mas se não está certo sobre qual será o veículo da HQ, uma certa padronização pode poupar bastante trabalho quando precisar rediagramar. Longe de querer restringir a liberdade do quadrinhista, a proposta de uma padronização visa a preservar a própria obra, e é também um sinal de respeito para com o leitor. As páginas seguintes com o Príncipe Valente, Tarzan e B. C., e as informações correspondentes, foram tiradas do livro “Quadrinhos e Comunicação de Massa”, editado pelo MASP em 1970.

Vejamos um primeiro tipo de padrão na seguinte página de Príncipe Valente. O padrão é dividir a página vertical em 3 linhas de quadrinhos de mesma altura e dividir a linha do meio em dois quadrinhos de mesma largura. O número de quadrinhos e suas larguras na 1ª e 3ª linhas podem ser quaisquer. Para rediagramar a página no formato horizontal basta colocar o 1º quadro da 2ª linha após a 1ª linha e o 2º quadro da 2ª linha antes da 3ª linha. Veja a página remontada. Considero este um padrão muito bom, pois permite não só montar uma página nos formatos vertical e horizontal como transformar duas tiras (de jornais) em uma página de revista. Para isso basta fazer as tiras sempre aos pares. A 1ª tira do par deve ter sempre o 1º quadro com largura igual a um terço da largura total da tira. Os dois terços iniciais da 1ª tira e dos dois terços finais da 2ª tira podem ter a divisão que quiser. Uma opção, para não ter que fazer as tiras aos pares, é sempre dividir a tira em três quadros de larguras iguais.

A página de Tarzan a seguir mostra outro padrão. Este padrão é mais restritivo e nele o autor tem que fazer um quadrinho que possa ser retirado sem fazer falta à história. A página vertical possui três linhas de quadrinhos de alturas iguais, mas um pouco menores em relação ao padrão anterior, pois deve sobrar um espaço em cima para o título da série. Na 2ª linha, o 1º quadro deve ter largura igual a um terço da linha. Na 3ª linha, o 1º quadro deve também ter largura igual a um terço da linha e, além disso, não pode trazer informação nova, pois ele será eliminado na remontagem na horizontal. Não acho uma boa solução, mas tem a vantagem do título da série ficar fora dos quadrinhos. No caso da página de Príncipe Valente o título fica dentro do 1º quadro. Quando se publica as páginas em álbum não há necessidade do título em todas as páginas. Uma solução seria simplesmente o autor não colocar o título na página, mas aí deve haver imposição da agência distribuidora.


O outro padrão pode ser visto na página de B. C. a seguir. É mais próprio para HQs humorísticas. A página inteira vertical é dividida em quatro linhas de quadrinhos de mesma altura. Na 2ª linha, o 1º quadro deve ter largura igual a um terço da linha, na 3ª linha, o último quadro deve ter largura igual a um terço da largura da linha. A remontagem no formato horizontal fica: o 1º quadro da 2ª linha para o final da 1ª linha. Os dois terços finais da 2ª linha e os dois terços iniciais da 3ª linha formam a nova 2ª linha; o um terço final da terceira linha é colocado na frente da 4ª linha para formar a nova 3ª linha. Neste padrão, o formato horizontal tem três linhas para ocupar meia página de jornal tablóide. Uma variação neste formato horizontal é elimininar a primeira linha e publicar somente as duas últimas linhas em um terço de página de jornal tablóide. Para que se possa fazer isso é preciso que essa primeira linha seja composta da seguinte maneira: a primeira metade é o título da série, e depois vem mais dois quadrinhos que devem ser independentes dos demais. Basta ver nas páginas dominicais de Garfield ou Calvin, entre outros, que os dois primeiros quadrinhos formam uma piada isolada. Por esse motivo e pelo fato dos quadrinhos serem menores este padrão não é apropriado para as séries de aventuras.

Em relação ao tamanho do original de uma tira, a princípio não há um padrão rígido, pode-se fazer do tamanho que quiser. Mas há um formato que muitas vezes é usado. É a tira com 29,5 cm de largura por 9,5 cm de altura. A razão dessa largura é que fica fácil a divisão em três ou quatro quadrinhos iguais. Ou seja, uma tira de largura 29,5 cm pode ser dividida em 3 quadros de 9,5 cm de largura cada com 0,5 cm entre eles (neste caso trata-se de 3 quadrados pois a largura e a altura são iguais), ou em 4 quadros de 7,0 cm de largura com 0,5 cm entre eles. Com uma largura de 29,5 cm no original, ao se fazer uma redução de 50%, obtém-se para publicação uma tira de aproximadamente 15 cm, que é mais ou menos a metade do espaço útil numa folha de jornal. Assim, uma folha comportaria duas colunas de tiras neste tamanho. Hoje, no entanto, o espaço dedicado a uma tira no jornal é menor, ou seja, a tira é reduzida até ficar com uma largura de uns 12 cm. Mas o formato 29,5 x 9,5 cm continua uma boa sugestãopara a confecção do original.


Existe uma outra divisão de quadros numa tira que tem uma vantagem adicional. É fazer com que haja uma separação de quadros exatamente nomeio da largura da tira. O caso de tira de 4 quadros iguais é um caso particular deste padrão. Tanto a primeira metade da tira quanto a segunda metade da tira podem ter a divisão que quiser. A vantagem desse padrão é facilitar a montagem no formato livro de bolso. Asism, cada tira se transforma em uma página de duas linhas de quadrinhos. Os diversos livros de bolso da Editora Artenova e os recentes livros de Mafalda, da Martins Fontes, mostram como é problemática a adaptação de tiras para este formato.

Estas sugestões que faço de padrões para HQs não tem o intuito de tolher o autor. Mas muitas vezes o autor faz uma divisão aleatória dos quadros que dificultaria uma remontagem, sendo que sua HQ não perderia nada se ele a tivesse feito em um dos padrões. Por outro lado, se ele faz a HQ num formato e só consegue vendê-la a uma revista de formato diferente, o editor não hesitará em reformatá-la como for possível, cortando pedaços ou quadros inteiros no processo. Mesmo quando o editor é responsável, o resultado fica a desejar. Há o caso das tiras Matt Dillon (ou Gun Law) publicadas pela Editora Vecchi na revista “Histórias de Faroeste”. Harry Bishop, o autor da tira tnha a mania de colocar os balões atravessando de um quadro para outro. Na hora de reformatar para o formatinho ficava um desastre.
Portanto, o uso de um padrão na feitura da HQ é uma maneira do autor preservar a integridade de sua obra quando esta tiver que ser reformatada

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