Sempre que possível vamos colocar um artista em destaque, falando um pouco de sua trajetória no mundo dos quadrinhos e dando a você a oportunidade de conhecer um pouco mais da sua vida. Este primeiro traz o amigo Fernando Marques, um breve relato sobre sua biografia e algumas tiras... espero que curtam a novidade...
Fernando Marques nasceu em maio de 1963, e desde pequeno gostava de quadrinhos e desenhos animados. Rabiscava em seus cadernos seus personagens favoritos e criava histórias para eles diferentes das que via na TV.
Em 1974 criou seus primeiros personagens (alguns vivos até hoje) e seu primeiro caderno de histórias, e aí não parou mais. De lá para cá foram criados muitos outros tipos e muitas outras histórias.
Deixou um pouco os quadrinhos de lado de 1982 a 1988, quando começou a trabalhar em rádios FM como locutor e programador musical. Mas, apesar de gostar muito, viu que o caminho não era só esse, e começou a se dedicar novamente aos quadrinhos.
Em 1988, começou a publicar as tiras de Betão & Cia! diariamente no (extinto) Jornal de Petrópolis. Em 1989 nasceu uma de suas personagens principais: a gatinha Tatá, cujo primeiro trabalho foi virar capa de caderno. Nessa época, começou a fazer algumas ilustrações para um outro periódico (Jornal Cultural Obelisco) que, em 1989, com o fim do Jornal de Petrópolis, passa a publicar as tiras do “Betão e Cia!”. No ano seguinte estes personagens ganharam seu espaço próprio: entra em cena a Tribuninha, suplemento infantil do jornal Tribuna de Petrópolis. Nele são publicadas tiras, historinhas e passatempos com a gatinha Tatá, “Betão e Cia!” e muitos outros.
Em abril de 1993 nasceu o Diarinho, e Fernando Marques monopolizou o mercado de suplementos infantis em Petrópolis. Nesse jornalzinho encartado no jornal Diário de Petrópolis, publicou tiras dos Pirralhos e do João, e ilustrou as histórias infantis. Mas, infelizmente, por motivos diversos, o Diarinho teve vida curta. Foram 5 meses de publicação. Então os Pirralhos e o João foram ocupar um merecido espaço na Tribuninha, um grande sucesso entre as crianças da cidade.
Seus Trabalhos
O primeiro trabalho como ilustrador foi em 1977, quando ilustrou o livro “Dicas Úteis para sua Cozinha”, da Ediouro.
Em 1986, elaborou o cartão de Natal da rede Transamérica de Rádio. Em 1989, criou algumas capas para os cadernos de uma indústria de papéis de Petrópolis. Foi onde a gatinha Tatá apareceu pela primeira vez. Estes cadernos foram vendidos em todo o Brasil. Depois disso ficou cuidando mais da Tribuninha até que, em 1993, resolveu fazer sua primeira revista em quadrinhos. Pegou o texto de um livro da escritora Stella Carr, adaptou para seus personagens e publicou a revista “O Segredo do Museu Imperial”. Lançou-a independente na Bienal do Livro de São Paulo, em 1994, que teve a participação da autora e do pessoal do stand da Editora Moderna.
Em 1995, teve seu trabalho encomendado para ilustrar uma estória infantil, da escritora Laíta Born. Utilizou seus personagens de quadrinhos (Os Pirralhos) e o livrinho foi distribuído em diversas escolas da cidade, com o apoio do Ministério da Cultura.
Ainda em 1995, outra encomenda: dessa vez um professor e historiador resolveu mudar e lançar, em vez de livro, uma revista em quadrinhos contando a história de Petrópolis. Pelo fato do professor estar com pressa da publicação, a revista não saiu boa. Uma versão atualizada da História de Petrópolis em Quadrinhos está pronta para ser publicada, com 80 páginas coloridas e passatempos sobre o tema da história, onde dois personagens batem o maior papo sobre fatos históricos e curiosidades da Cidade Imperial.
O suplemento Tribuninha continua hoje com seu sucesso. São 26 anos na estrada, divertindo e divulgando a cultura, sempre com muitas ilustrações e muito bom humor. Nesse caminho nasceu um irmãozinho, o Diarinho, que foi publicado semanalmente no jornal Diário do Vale, no sul-fluminense, entre 2011 e 2014.
No segmento rádio, embora esteja disponível profissionalmente no momento, passou pelas rádios Melodia, Musical, Imperial e Tribuna em Petrópolis, Manchete (RJ), Transamérica (SP) e Coca-Cola FM (SP) exercendo funções de locutor, operador de áudio, programador musical, DJ e coordenador.
sábado, 29 de abril de 2017
UM BREVE RESUMO...
UM BREVE RESUMO...
Já se passaram 6 meses desde o retorno do Múltiplo ao convívio mensal dos leitores, e muita coisa vem acontecendo de bom no meio alternativo desde então.
É verdade que muita coisa falta ainda para ser ajustada, muita coisa boa está por vir e os acontecimentos vão se acumulando na minha “gaveta”, mas longe disso ser um sinal ruim, pelo contrário, com a consolidação da publicação, seja ela on-line ou impressa, o Múltiplo vem trazendo grandes mestres a cada edição e conciliando eles com a nova geração que vem pedindo passagem.
São inúmeras as manifestações, e posso dizer, sem medo de errar, que os Quadrinhos Nacionais estão mais vivos do que nunca.
Como disse Edgard Guimarães no seu artigo publicado nos anos 1990 e que reproduzi nesta edição do Múltiplo, o mercado de quadrinhos nacionais ainda não é condizente com a qualidade do material que temos visto por aí.
São HQs da mais alta qualidade sendo produzidas constantemente por nossos artistas, podemos ver isso em todas as campanhas do Catarse, bem como nas redes sociais, onde a maioria ainda é de ilustrações... mas ilustrações cada vez melhores, tanto em traço quanto em acabamento.
O Múltiplo nasceu com a ideia de agregar os valores e divulgar sem restrições toda e qualquer manifestação de HQs nacionais e mostrar a força que temos quando estamos unidos. Amigos vão chegando, outros se ausentam por algum motivo, mas o mais importante continua vivo nas páginas do Múltiplo: o espírito de colaboração.
Ideias não faltam, mas é preciso que o quadrinhista entenda que precisa participar, seja com colaborações, seja com comentários, mas acima de tudo, divulgando as edições e compartilhando com os amigos. Uma andorinha só não faz verão, mas todos unidos em prol de um objetivo comum que é a valorização dos quadrinhos nacionais, podem fazer toda a diferença.
Uma paixão como essa é o que me motiva a levar adiante essa empreitada, mesmo com todas as dificuldades do nosso dia a dia, trazendo até as páginas do Múltiplo o carinho com que o artista faz o seu trabalho.
Mais uma edição chega até você com uma diversificação imensa, dando espaço a quadrinhos autorais e demonstrando que toda forma de expressão pode conviver, sem atritos, pelo contrário, completando uma edição cheia de arte. Com nomes consagrados e novos talentos, o Múltiplo pede passagem.
E vamos dando o tom real dos dias de hoje, que poderiam ser cinzentos, mas que se fortalecem nas ideias que surgem e nos trabalhos apresentados. Aos leitores dessa edição deixo simplesmente a sensação de que o trabalho está sendo cumprido de forma correta e trazendo para o nosso convívio diário as amizades que se fortalecem em cada nova publicação.
O Múltiplo é de todos nós, que assim seja sempre...
André Carim
Já se passaram 6 meses desde o retorno do Múltiplo ao convívio mensal dos leitores, e muita coisa vem acontecendo de bom no meio alternativo desde então.
É verdade que muita coisa falta ainda para ser ajustada, muita coisa boa está por vir e os acontecimentos vão se acumulando na minha “gaveta”, mas longe disso ser um sinal ruim, pelo contrário, com a consolidação da publicação, seja ela on-line ou impressa, o Múltiplo vem trazendo grandes mestres a cada edição e conciliando eles com a nova geração que vem pedindo passagem.
São inúmeras as manifestações, e posso dizer, sem medo de errar, que os Quadrinhos Nacionais estão mais vivos do que nunca.
Como disse Edgard Guimarães no seu artigo publicado nos anos 1990 e que reproduzi nesta edição do Múltiplo, o mercado de quadrinhos nacionais ainda não é condizente com a qualidade do material que temos visto por aí.
São HQs da mais alta qualidade sendo produzidas constantemente por nossos artistas, podemos ver isso em todas as campanhas do Catarse, bem como nas redes sociais, onde a maioria ainda é de ilustrações... mas ilustrações cada vez melhores, tanto em traço quanto em acabamento.
O Múltiplo nasceu com a ideia de agregar os valores e divulgar sem restrições toda e qualquer manifestação de HQs nacionais e mostrar a força que temos quando estamos unidos. Amigos vão chegando, outros se ausentam por algum motivo, mas o mais importante continua vivo nas páginas do Múltiplo: o espírito de colaboração.
Ideias não faltam, mas é preciso que o quadrinhista entenda que precisa participar, seja com colaborações, seja com comentários, mas acima de tudo, divulgando as edições e compartilhando com os amigos. Uma andorinha só não faz verão, mas todos unidos em prol de um objetivo comum que é a valorização dos quadrinhos nacionais, podem fazer toda a diferença.
Uma paixão como essa é o que me motiva a levar adiante essa empreitada, mesmo com todas as dificuldades do nosso dia a dia, trazendo até as páginas do Múltiplo o carinho com que o artista faz o seu trabalho.
Mais uma edição chega até você com uma diversificação imensa, dando espaço a quadrinhos autorais e demonstrando que toda forma de expressão pode conviver, sem atritos, pelo contrário, completando uma edição cheia de arte. Com nomes consagrados e novos talentos, o Múltiplo pede passagem.
E vamos dando o tom real dos dias de hoje, que poderiam ser cinzentos, mas que se fortalecem nas ideias que surgem e nos trabalhos apresentados. Aos leitores dessa edição deixo simplesmente a sensação de que o trabalho está sendo cumprido de forma correta e trazendo para o nosso convívio diário as amizades que se fortalecem em cada nova publicação.
O Múltiplo é de todos nós, que assim seja sempre...
André Carim
Editores no Brasil - Edgard Guimarães
Um artigo escrito pelo amigo e Fanzineiro Edgard Guimarães para uma das edições do Múltiplo do ano de 1992 e que ontem relendo, vi que continua mais atual do que nunca. Nele, Edgard cita uma carta recebida do grande desenhista Márcio Sennes Pereira, editor do fanzine “Zonna! ”, e que vale a pena conferir a seguir. Um recado importante para o universo alternativo e para as chamadas “grandes” editoras e editores nacionais. Também pelo rico texto de Edgard com informações importantes sobre o mercado de quadrinhos no Brasil.
“Numa das cartas que me escreveu, Márcio Sennes Pereira, editor do fanzine “Zonna! ”, fez, sobre os editores no Brasil, um comentário com o qual concordo plenamente, tanto que já abordei o tema em entrevistas que dei a alguns fanzines. Agora vou aproveitar o comentário do Márcio para desenvolver um pouco mais o assunto. ”
Editores no Brasil!
“Eu não sei como esses caras que editam quadrinhos no Brasil podem ser chamados de Editores! O Editor lê tudo, vê tudo, busca talento até numa tribo de índios “ianomâmi” se for preciso! Os nossos (editores) não. Olham só para dentro de suas editoras e para quem está perto deles! Se não houver nenhum grande talento ali, para eles não vai haver em outro lugar. A Editora Globo e a Abril têm coragem de lançar personagens estrangeiros desconhecidos do grande público, mas não têm coragem de fazer o mesmo com personagens desconhecidos brasileiros. ” (Márcio Sennes Pereira)
Num curso de quadrinhos que houve na Oficina “Oswald de Andrade” (na época chamada “Três Rios”), em São Paulo, orientado por Álvaro de Moya, e do qual participei, um editor da Editora Abril, presente num debate sobre a dificuldade que existe para o artista brasileiro publicar, disse que muitas vezes o desenhista não publica porque fica em casa esperando que a editora vá atrás dele. Esta declaração é muito importante por dois motivos. Primeiro, porque, realmente, o quadrinhista brasileiro não deve se acomodar, deve procurar toda e qualquer editora, mostrar seu trabalho a todos cujo ofício seja editar, e enfrentar com coragem todas as recusas. Assim, o conselho deve ser seguido por todos que tenham alguma intenção de trabalhar com quadrinhos no Brasil. Por outro lado, a declaração mostra claramente a mentalidade editorial no país. O editor faz exatamente o que aconselha ao quadrinhista não fazer: se acomodar. O editor fica à espera de que os trabalhos a serem publicados venham até ele. Isso, em tese, pois na realidade, a situação é mais séria. O editor não tem visto nem os talentos que se encontram sob suas vistas. A Editora Abril tem a seu serviço pelo menos dois desenhistas da mais alta qualidade – Watson Portela e Gustavo Machado – e os mantém subutilizados nos quadrinhos infantis. Como querer, então, que o editor saia à cata de talentos?
Como disse, a situação é mais séria. Na área dos quadrinhos, praticamente não existe editores no Brasil. Um simples detalhe dá a ideia de como essa afirmação, aparentemente exagerada, reflete bem a situação da editoria de quadrinhos no Brasil. Basta dar uma olhada nas HQs produzidas no país, quando são publicadas, no espaço onde aparecem os créditos do trabalho. No máximo aparecem os nomes do roteirista, do desenhista e do arte-finalista. Nunca aparece o nome do editor. Mas quem acompanhou as revistas de Super-homem e Batman (entre outros), quando publicadas pela Ebal, se lembra que, nos créditos, o primeiro nome que aparecia era o do editor. A Ebal apenas mantinha os créditos como apareciam originalmente nas revistas americanas. Esse detalhe simples mostra claramente a importância do editor americano em todo o processo que resulta numa revista de quadrinhos como produto final. E mais. A função desse editor americano não é puramente comercial, exige-se dele, além de capacidade gerencial, uma grande dose de competência artística, pois ele influi diretamente nos rumos de uma série de HQ, nos destinos de personagens de quadrinhos. Não vou discutir aqui o lado podre desse editor, onde ele representa o cerceamento da liberdade de roteiristas e desenhistas, ou quando toma decisões puramente comerciais (como as que resultou nas mortes de Flash, Super-moça e Robin, entre outros). Não há sentido em se discutir distribuição de renda na Somália. O fato, aqui posto, é que editar quadrinhos no Brasil, para as grandes editoras, parece ser sinônimo de comprar pronto, com três anos de defasagem, o que é produzido nas grandes americanas, e eventualmente publicar um ou outro europeu. Ainda no sentido de evidenciar a importância do editor americano, cabe um exemplo. Muito se falou sobre o renascimento de Batman depois da obra de Frank Miller, “O Cavaleiro das Trevas”. Não há dúvida de que Miller é um excelente roteirista, dono de uma técnica narrativa invejável e um desenhista moderno e expressivo. O que ninguém falou, no entanto, é que “Cavaleiro das Trevas” só foi possível graças ao talento do editor, Denny O’Neil, desde fim da década de sessenta na ativa e causando pequenas revoluções. E foi O’Neil que, no começo de setenta, como roteirista, criou o Batman moderno que está aí até hoje. E deve ser creditado, em grande parte, aos editores, o mérito pela ressurreição do mercado de quadrinhos de super-herói nos EUA nos últimos dez anos.
No começo de oitenta, Raul Veiga, que acabara de chegar dos Estados Unidos, previa em seu fanzine “O Lobinho” a queda dos gibis de super-heróis, devido ao aumento dos preços das revistas e o congelamento das mesadas da garotada. E não é que as editoras deram a volta por cima, descobrindo o mercado adulto com a sofisticação de seus produtos. Não haja dúvida, portanto, que a presença do editor à frente da produção de quadrinhos, coordenando suas diversas etapas, participando ativamente de sua realização, é o segredo do sucesso da indústria americana de revistas de HQs.
No Brasil, esporadicamente se vê um editor nesses moldes. Um dos que parecem ter consciência de como um editor deve se portar é Octacílio Barros D’Assunção. Entre fim de setenta e início de oitenta, na Editora Vecchi, ele mostrou claramente, em etapas, como editar quadrinhos no Brasil. Publicou alguns almanaques de terror somente com enlatados de custo barato. Encontrando o público, passou a substituir os enlatados por material brasileiro engavetado ou republicando HQs antigas. O passo seguinte foi criar uma equipe de produção de quadrinhos, com talentos inquestionáveis, que manteve regularmente nas bancas uma meia dúzia de títulos, até a falência da editora, que não foi por culpa das revistas ou do editor. Peço desculpas por alguma injustiça que eu esteja cometendo, mas fora esse ou outro caso, o restante da atividade de editor se resume à mera compra de material estrangeiro, ao aproveitamento de modismos (Fofão, Gugu, He-Man), à utilização de personagens consagrados (Disney, Recruta Zero, Lulu e Bolinha), a iniciativas desarticuladas que, apesar de boas intenções, não chegam a consolidar, e, o pior, a picaretagem de muitas pequenas editoras.
Essa afirmação de que praticamente não há editor de quadrinhos no Brasil encontra reforço em dois fatos que narrarei, como exemplo. Em 1974, a Editora Abril lançou a revista “Crás! ”, formato “Veja”, colorida, papel de qualidade, somente com quadrinhos brasileiros. Essa revista durou dois números nesse formato e fórmula. Depois virou revista infantil. Nesses dois primeiros números, “Crás! ” se mostrou uma das melhores revistas já editadas nesse país. Trouxe material variado, praticamente tudo de qualidade, reunindo num mesmo miolo, Jayme Cortez, Lanzellotti, Ivan Rodrigues, Canini, Herrero, Ciça, Perotti, entre tantos. Uma autêntica revista de quadrinhos, precursora de “Inter Quadrinhos” e “Animal”. No mesmo curso mencionado no início desse texto, o editor da Abril presente informou que “Crás! ” não foi cancelada por problemas de vendas. Disse até que ela vendeu bem. O motivo do cancelamento, segundo ele, foi de falta de material para fazer a revista. Ora, parece brincadeira que no Brasil de dezenas de artistas talentosíssimos que não encontram espaço para publicar, uma revista de ótima qualidade tenha acabado porque não os encontrou. Esse é o maior atestado da incompetência do editor, ou, como venho defendendo, da inexistência de uma pessoa que possa receber esse nome de Editor. Mais recentemente outro fato grave aponta nessa direção. Desde meados de 86, depois do Plano Cruzado, o mercado de gibis no Brasil vinha se expandindo, em repetidos “buns”. Nem mesmo o confisco de cruzados novos, feito por Collor em sua entrada de leão, afetou o bolso do leitor de quadrinhos que continuou mantendo o mercado aquecido. Somente o agravamento da recessão, mais para o meio de 91, conseguiu afetar as editoras causando um festival de cancelamentos. Num desses “buns”, as grandes editoras lançaram revistas, minisséries, graphic novels de todo tipo. Parecia que o leitor estava comprando qualquer coisa. E estava mesmo, já que as editoras continuaram. Pois nesse mesmo praticamente nenhum lançamento foi de quadrinho brasileiro. Novamente, ora, se há uma ocasião tão propícia assim para se fincar as bases de uma indústria de quadrinhos brasileiros, aproveitando a avidez do leitor por novidades, para consolidar personagens, revistas e hábitos, e não há uma única revista lançada, agora pergunto, tem sentido usar a palavra Editor no Brasil?
EDGARD GUIMARÃES
EDITOR DO INFORMATIVO
“QUADRINHOS INDEPENDENTES”
“Numa das cartas que me escreveu, Márcio Sennes Pereira, editor do fanzine “Zonna! ”, fez, sobre os editores no Brasil, um comentário com o qual concordo plenamente, tanto que já abordei o tema em entrevistas que dei a alguns fanzines. Agora vou aproveitar o comentário do Márcio para desenvolver um pouco mais o assunto. ”
Editores no Brasil!
“Eu não sei como esses caras que editam quadrinhos no Brasil podem ser chamados de Editores! O Editor lê tudo, vê tudo, busca talento até numa tribo de índios “ianomâmi” se for preciso! Os nossos (editores) não. Olham só para dentro de suas editoras e para quem está perto deles! Se não houver nenhum grande talento ali, para eles não vai haver em outro lugar. A Editora Globo e a Abril têm coragem de lançar personagens estrangeiros desconhecidos do grande público, mas não têm coragem de fazer o mesmo com personagens desconhecidos brasileiros. ” (Márcio Sennes Pereira)
Num curso de quadrinhos que houve na Oficina “Oswald de Andrade” (na época chamada “Três Rios”), em São Paulo, orientado por Álvaro de Moya, e do qual participei, um editor da Editora Abril, presente num debate sobre a dificuldade que existe para o artista brasileiro publicar, disse que muitas vezes o desenhista não publica porque fica em casa esperando que a editora vá atrás dele. Esta declaração é muito importante por dois motivos. Primeiro, porque, realmente, o quadrinhista brasileiro não deve se acomodar, deve procurar toda e qualquer editora, mostrar seu trabalho a todos cujo ofício seja editar, e enfrentar com coragem todas as recusas. Assim, o conselho deve ser seguido por todos que tenham alguma intenção de trabalhar com quadrinhos no Brasil. Por outro lado, a declaração mostra claramente a mentalidade editorial no país. O editor faz exatamente o que aconselha ao quadrinhista não fazer: se acomodar. O editor fica à espera de que os trabalhos a serem publicados venham até ele. Isso, em tese, pois na realidade, a situação é mais séria. O editor não tem visto nem os talentos que se encontram sob suas vistas. A Editora Abril tem a seu serviço pelo menos dois desenhistas da mais alta qualidade – Watson Portela e Gustavo Machado – e os mantém subutilizados nos quadrinhos infantis. Como querer, então, que o editor saia à cata de talentos?
Como disse, a situação é mais séria. Na área dos quadrinhos, praticamente não existe editores no Brasil. Um simples detalhe dá a ideia de como essa afirmação, aparentemente exagerada, reflete bem a situação da editoria de quadrinhos no Brasil. Basta dar uma olhada nas HQs produzidas no país, quando são publicadas, no espaço onde aparecem os créditos do trabalho. No máximo aparecem os nomes do roteirista, do desenhista e do arte-finalista. Nunca aparece o nome do editor. Mas quem acompanhou as revistas de Super-homem e Batman (entre outros), quando publicadas pela Ebal, se lembra que, nos créditos, o primeiro nome que aparecia era o do editor. A Ebal apenas mantinha os créditos como apareciam originalmente nas revistas americanas. Esse detalhe simples mostra claramente a importância do editor americano em todo o processo que resulta numa revista de quadrinhos como produto final. E mais. A função desse editor americano não é puramente comercial, exige-se dele, além de capacidade gerencial, uma grande dose de competência artística, pois ele influi diretamente nos rumos de uma série de HQ, nos destinos de personagens de quadrinhos. Não vou discutir aqui o lado podre desse editor, onde ele representa o cerceamento da liberdade de roteiristas e desenhistas, ou quando toma decisões puramente comerciais (como as que resultou nas mortes de Flash, Super-moça e Robin, entre outros). Não há sentido em se discutir distribuição de renda na Somália. O fato, aqui posto, é que editar quadrinhos no Brasil, para as grandes editoras, parece ser sinônimo de comprar pronto, com três anos de defasagem, o que é produzido nas grandes americanas, e eventualmente publicar um ou outro europeu. Ainda no sentido de evidenciar a importância do editor americano, cabe um exemplo. Muito se falou sobre o renascimento de Batman depois da obra de Frank Miller, “O Cavaleiro das Trevas”. Não há dúvida de que Miller é um excelente roteirista, dono de uma técnica narrativa invejável e um desenhista moderno e expressivo. O que ninguém falou, no entanto, é que “Cavaleiro das Trevas” só foi possível graças ao talento do editor, Denny O’Neil, desde fim da década de sessenta na ativa e causando pequenas revoluções. E foi O’Neil que, no começo de setenta, como roteirista, criou o Batman moderno que está aí até hoje. E deve ser creditado, em grande parte, aos editores, o mérito pela ressurreição do mercado de quadrinhos de super-herói nos EUA nos últimos dez anos.
No começo de oitenta, Raul Veiga, que acabara de chegar dos Estados Unidos, previa em seu fanzine “O Lobinho” a queda dos gibis de super-heróis, devido ao aumento dos preços das revistas e o congelamento das mesadas da garotada. E não é que as editoras deram a volta por cima, descobrindo o mercado adulto com a sofisticação de seus produtos. Não haja dúvida, portanto, que a presença do editor à frente da produção de quadrinhos, coordenando suas diversas etapas, participando ativamente de sua realização, é o segredo do sucesso da indústria americana de revistas de HQs.
No Brasil, esporadicamente se vê um editor nesses moldes. Um dos que parecem ter consciência de como um editor deve se portar é Octacílio Barros D’Assunção. Entre fim de setenta e início de oitenta, na Editora Vecchi, ele mostrou claramente, em etapas, como editar quadrinhos no Brasil. Publicou alguns almanaques de terror somente com enlatados de custo barato. Encontrando o público, passou a substituir os enlatados por material brasileiro engavetado ou republicando HQs antigas. O passo seguinte foi criar uma equipe de produção de quadrinhos, com talentos inquestionáveis, que manteve regularmente nas bancas uma meia dúzia de títulos, até a falência da editora, que não foi por culpa das revistas ou do editor. Peço desculpas por alguma injustiça que eu esteja cometendo, mas fora esse ou outro caso, o restante da atividade de editor se resume à mera compra de material estrangeiro, ao aproveitamento de modismos (Fofão, Gugu, He-Man), à utilização de personagens consagrados (Disney, Recruta Zero, Lulu e Bolinha), a iniciativas desarticuladas que, apesar de boas intenções, não chegam a consolidar, e, o pior, a picaretagem de muitas pequenas editoras.
Essa afirmação de que praticamente não há editor de quadrinhos no Brasil encontra reforço em dois fatos que narrarei, como exemplo. Em 1974, a Editora Abril lançou a revista “Crás! ”, formato “Veja”, colorida, papel de qualidade, somente com quadrinhos brasileiros. Essa revista durou dois números nesse formato e fórmula. Depois virou revista infantil. Nesses dois primeiros números, “Crás! ” se mostrou uma das melhores revistas já editadas nesse país. Trouxe material variado, praticamente tudo de qualidade, reunindo num mesmo miolo, Jayme Cortez, Lanzellotti, Ivan Rodrigues, Canini, Herrero, Ciça, Perotti, entre tantos. Uma autêntica revista de quadrinhos, precursora de “Inter Quadrinhos” e “Animal”. No mesmo curso mencionado no início desse texto, o editor da Abril presente informou que “Crás! ” não foi cancelada por problemas de vendas. Disse até que ela vendeu bem. O motivo do cancelamento, segundo ele, foi de falta de material para fazer a revista. Ora, parece brincadeira que no Brasil de dezenas de artistas talentosíssimos que não encontram espaço para publicar, uma revista de ótima qualidade tenha acabado porque não os encontrou. Esse é o maior atestado da incompetência do editor, ou, como venho defendendo, da inexistência de uma pessoa que possa receber esse nome de Editor. Mais recentemente outro fato grave aponta nessa direção. Desde meados de 86, depois do Plano Cruzado, o mercado de gibis no Brasil vinha se expandindo, em repetidos “buns”. Nem mesmo o confisco de cruzados novos, feito por Collor em sua entrada de leão, afetou o bolso do leitor de quadrinhos que continuou mantendo o mercado aquecido. Somente o agravamento da recessão, mais para o meio de 91, conseguiu afetar as editoras causando um festival de cancelamentos. Num desses “buns”, as grandes editoras lançaram revistas, minisséries, graphic novels de todo tipo. Parecia que o leitor estava comprando qualquer coisa. E estava mesmo, já que as editoras continuaram. Pois nesse mesmo praticamente nenhum lançamento foi de quadrinho brasileiro. Novamente, ora, se há uma ocasião tão propícia assim para se fincar as bases de uma indústria de quadrinhos brasileiros, aproveitando a avidez do leitor por novidades, para consolidar personagens, revistas e hábitos, e não há uma única revista lançada, agora pergunto, tem sentido usar a palavra Editor no Brasil?
EDGARD GUIMARÃES
EDITOR DO INFORMATIVO
“QUADRINHOS INDEPENDENTES”
Fórum de Discussão - Preto e Branco ou Colorido?
Preto e Branco ou Colorido?
Esse é um assunto rico em detalhes e preferências, e para finalizarmos essa discussão nada melhor que a opinião de outros amigos. Caso alguém mais queira opinar ou questionar alguma coisa quanto à proposta discutida, fique à vontade. Na próxima edição começaremos outra discussão, tão rica quanto essa e que nos mostrará um pouco mais desse fascinante universo que é o de quadrinhos... boa leitura...
Cayman Moreira
Boa noite, meu jovem. Aqui está a resposta. Perdoe-me se falei muito. Sou de um tempo em que a ilustração em preto e branco era a tradição mundial, e os artistas que fazem parte desta era de ouro, eram verdadeiros deuses. Bem, a minha inspiração veio exatamente deste tempo, quando a Marvel e a DC tinham seus verdadeiros heróis, os desenhistas - devo dizer que naquela época, anos 60 e 70's, da Marvel eu sempre cultuei demais vários heróis, principalmente o Capitão América e o Quarteto Fantástico por Jack Kirby e da DC apenas o Batman por Neal Adams. Por outro lado, haviam meus heróis favoritos como Flash Gordon, o Fantasma, Príncipe Valente e o Tarzan de Burne Hogarth, Russ Manning e Doug Wildey e vários personagens do western como TEX, e alguns bem "Dark" como O Sombra. Mas... foi com as publicações da Warren Comics em preto branco que eu fiquei dominado. As revistas Eerie e Creepy, ambas convertidas na saudosa Kripta original, assim como a Vampirella de Pepe Gonzales, são meu mundo principal. E as publicações nacionais de terror, guerra e ação são meu santuário pessoal, através de Nico Rosso, Jayme Cortez, Colonnese, Shimamoto e Mozart Couto. Além do custo na produção, o preto e branco ainda é algo clássico e imaculado para mim. Dificilmente alguém que faz páginas coloridas me convence como Will Eisner e Alex Ross o fizeram, porque o colorido das páginas hoje em dia - sinceramente - é algo equivocado, mal apresentado, grosseiro e mentiroso, que me perdoem os amantes deste recurso, porque a maioria é feita digitalmente sem o menor conhecimento de luz, sombra e perspectiva. Existem bons trabalhos a cores? Existem sim! Mas são feitos com rara qualidade profissional, basta dar uma olhada na péssima impressão de muitas revistas também, para constatar. Eu trabalho muito pouco com colorização, principalmente à mão, e quase nunca digitalmente, porque o preto e branco foi sempre a minha escola principal, como autodidata, observando os mestres, e porque a boa expressividade nos quadrinhos é notada neste estilo, enquanto que a colorização feita hoje em dia apenas esconde a falta de conhecimento de quem ainda tem muito que aprender.
Gazy Andraus
Prefiro desenhar as HQs poéticas, pois fluem juntos desenhos e textos como uma arte só, e em preto e branco, porque assim me acostumei e tenho certa dificuldade na área da pintura. Mesmo assim, faço minhas tentativas, tanto nos pincéis com aquarelas, como no photoshop. O que me inspira são os sentimentos que me acometem ao ouvir músicas épicas e dramáticas, que impulsionam minha mente a criar rápidas HQs poéticas que trazem respostas a esses impulsos, como se houvesse um fator dramático no ser humano e que ao final ele o transcenderia (por isso minhas HQs têm um tom dramático em geral, e no final há uma espécie de apoteose transcendente).
Mira Werner
Preferiro preto e branco. Cor é tentar controlar a nossa própria visão e sentimentos. Preto e branco me deixa livre e meus pensamentos e sentimentos para trabalhar.
Ota Assunção
Eu prefiro colorido. Acho que mexo bem com escolha de cores e a cor é um componente essencial no meu trabalho. Eventualmente pode ter alguma coisa que fique melhor em preto e branco, aí faço em preto e branco. Quanto à diferença de custo... na criação é indiferente, pesa mais na hora de imprimir... eu mesmo mando imprimir a maioria das minhas edições independentes. Às vezes, quando é para outro lugar, tem exigência de ser em P&B, mas eu faço de outro jeito, não basta simplesmente converter o arquivo colorido para grayscale.
Flávio Almeida
Gosto mais de desenhos em preto e branco. Acho que dá uma dramaticidade que as cores não conseguem muito passar. Para mim, quadrinhos coloridos nunca fizeram a minha cabeça. Quando penso em Alberto Breccia, Will Eisner, Hugo Pratt, Ivo Milazzo e José Ortiz, que me influenciaram em meus trabalhos, vejo o quanto eles foram os mestres em HQs em preto e branco.
Anilton Freires
Boa tarde, gosto muito de desenhar HQ em preto e branco, onde posso demostrar melhor toda minha capacidade de desenhar, dar movimento, composição e volume.
Osvaldo Ferreira
Bom, eu particularmente prefiro colorido em casos de ilustração, mas para HQ vai depender da narrativa, do que a cena precisa, Sin City mesmo não teria metade do impacto se fosse todo em cores, por exemplo. O mais importante sempre vai ser passar a mensagem correta na arte, tipo uma cena triste e depressiva, não vai ser colorida de forma vibrante como uma cena de amor e felicidade em família, seria algo com cores menos saturadas, às vezes, tudo em escala de cinza se torna a melhor opção.
Isaac Tiago
Como artista, essa é uma das minhas maiores indecisões na hora de produzir uma arte. No caso das HQs, sempre existe a possibilidade de contar a mesma história de maneiras diferentes, inclusive contá-la em cores ou PB, porém, cada história "pede" para ser feita de um jeito ou de outro, devido a vários fatores como temática, ambientação, intenção, público alvo... E é aí que, de acordo com outros fatores, entra a indecisão: "faço colorida ou PB?" Por mais que uma obra "peça" determinado acabamento, fatores como o custo de produção influenciam diretamente a escolha, mas no meu caso existe um outro fator tão influente quanto, chamado Limitação Técnica. Admiro muitos estilos de arte em PB e gostaria de produzir mais materiais pensados com este acabamento, mas o que acontece é que acredito “NÃO saber trabalhar direito” a arte em preto e branco, sem parecer que está faltando algo, já fiz alguns trabalhos sem cores e busco sempre evoluir nos quesitos em que tenho dificuldade (inclusive meu último trabalho é em PB), mas ainda não me sinto tão confortável com esses resultados quanto fico com os coloridos, admiro muito o resultados dos outros artistas, mas em relação aos meus, sempre acho que falta algo, por isso, acabo sempre me rendendo às cores, que dificultam e prolongam a produção, e algumas vezes até impedem a publicação impressa. Tenho projetos engavetados por conta disso, o máximo que consegui foi publicá-los em versão digital, mas o prazer não é nem de longe o mesmo!
Luiz Prado
Quando eu desenho uma HQ, depende muito do tom da história para fazê-la preto e branco ou colorida. Por exemplo, se a história é um Noir ou um terror/ suspense, pode ser preferível fazê-la preto e branco, ou com tons de cinza, para dar uma ambientação ao gênero da história, agora, se a história é sobre super-heróis ou fantasia, que são gêneros de mais impacto visual, é preferível colorido, para dar uma riqueza visual à história. E sim, é claro que o custo e agilidade de produção também são levados em conta na hora das escolhas. Na hora de desenhar uma HQ, o mais importante é saber contar a sua história, com a maior riqueza de narrativa possível. Toda vez que eu preciso ilustrar uma página, por exemplo, eu penso no princípio de, se eu fosse contar essa história sem falas e balões, nenhum leitor conseguiria entender a história com base apenas nas ilustrações? Como artista, às vezes, a gente é tentado a fazer de cada página uma obra prima, bem detalhada, e colocando o nosso melhor, mas às vezes, a história requer apenas uma narrativa que seja precisa, ou seja, às vezes menos é mais.
Próxima discussão:
Roteiristas e Desenhistas: Você usa referências biográficas ou referências de imagens? O que pensa sobre isso? Aos desenhistas: O que a tecnologia mudou e melhorou o seu trabalho? Participe, envie sua opinião para andrecarim@outlook.com...
Esse é um assunto rico em detalhes e preferências, e para finalizarmos essa discussão nada melhor que a opinião de outros amigos. Caso alguém mais queira opinar ou questionar alguma coisa quanto à proposta discutida, fique à vontade. Na próxima edição começaremos outra discussão, tão rica quanto essa e que nos mostrará um pouco mais desse fascinante universo que é o de quadrinhos... boa leitura...
Cayman Moreira
Boa noite, meu jovem. Aqui está a resposta. Perdoe-me se falei muito. Sou de um tempo em que a ilustração em preto e branco era a tradição mundial, e os artistas que fazem parte desta era de ouro, eram verdadeiros deuses. Bem, a minha inspiração veio exatamente deste tempo, quando a Marvel e a DC tinham seus verdadeiros heróis, os desenhistas - devo dizer que naquela época, anos 60 e 70's, da Marvel eu sempre cultuei demais vários heróis, principalmente o Capitão América e o Quarteto Fantástico por Jack Kirby e da DC apenas o Batman por Neal Adams. Por outro lado, haviam meus heróis favoritos como Flash Gordon, o Fantasma, Príncipe Valente e o Tarzan de Burne Hogarth, Russ Manning e Doug Wildey e vários personagens do western como TEX, e alguns bem "Dark" como O Sombra. Mas... foi com as publicações da Warren Comics em preto branco que eu fiquei dominado. As revistas Eerie e Creepy, ambas convertidas na saudosa Kripta original, assim como a Vampirella de Pepe Gonzales, são meu mundo principal. E as publicações nacionais de terror, guerra e ação são meu santuário pessoal, através de Nico Rosso, Jayme Cortez, Colonnese, Shimamoto e Mozart Couto. Além do custo na produção, o preto e branco ainda é algo clássico e imaculado para mim. Dificilmente alguém que faz páginas coloridas me convence como Will Eisner e Alex Ross o fizeram, porque o colorido das páginas hoje em dia - sinceramente - é algo equivocado, mal apresentado, grosseiro e mentiroso, que me perdoem os amantes deste recurso, porque a maioria é feita digitalmente sem o menor conhecimento de luz, sombra e perspectiva. Existem bons trabalhos a cores? Existem sim! Mas são feitos com rara qualidade profissional, basta dar uma olhada na péssima impressão de muitas revistas também, para constatar. Eu trabalho muito pouco com colorização, principalmente à mão, e quase nunca digitalmente, porque o preto e branco foi sempre a minha escola principal, como autodidata, observando os mestres, e porque a boa expressividade nos quadrinhos é notada neste estilo, enquanto que a colorização feita hoje em dia apenas esconde a falta de conhecimento de quem ainda tem muito que aprender.
Gazy Andraus
Prefiro desenhar as HQs poéticas, pois fluem juntos desenhos e textos como uma arte só, e em preto e branco, porque assim me acostumei e tenho certa dificuldade na área da pintura. Mesmo assim, faço minhas tentativas, tanto nos pincéis com aquarelas, como no photoshop. O que me inspira são os sentimentos que me acometem ao ouvir músicas épicas e dramáticas, que impulsionam minha mente a criar rápidas HQs poéticas que trazem respostas a esses impulsos, como se houvesse um fator dramático no ser humano e que ao final ele o transcenderia (por isso minhas HQs têm um tom dramático em geral, e no final há uma espécie de apoteose transcendente).
Mira Werner
Preferiro preto e branco. Cor é tentar controlar a nossa própria visão e sentimentos. Preto e branco me deixa livre e meus pensamentos e sentimentos para trabalhar.
Ota Assunção
Eu prefiro colorido. Acho que mexo bem com escolha de cores e a cor é um componente essencial no meu trabalho. Eventualmente pode ter alguma coisa que fique melhor em preto e branco, aí faço em preto e branco. Quanto à diferença de custo... na criação é indiferente, pesa mais na hora de imprimir... eu mesmo mando imprimir a maioria das minhas edições independentes. Às vezes, quando é para outro lugar, tem exigência de ser em P&B, mas eu faço de outro jeito, não basta simplesmente converter o arquivo colorido para grayscale.
Flávio Almeida
Gosto mais de desenhos em preto e branco. Acho que dá uma dramaticidade que as cores não conseguem muito passar. Para mim, quadrinhos coloridos nunca fizeram a minha cabeça. Quando penso em Alberto Breccia, Will Eisner, Hugo Pratt, Ivo Milazzo e José Ortiz, que me influenciaram em meus trabalhos, vejo o quanto eles foram os mestres em HQs em preto e branco.
Anilton Freires
Boa tarde, gosto muito de desenhar HQ em preto e branco, onde posso demostrar melhor toda minha capacidade de desenhar, dar movimento, composição e volume.
Osvaldo Ferreira
Bom, eu particularmente prefiro colorido em casos de ilustração, mas para HQ vai depender da narrativa, do que a cena precisa, Sin City mesmo não teria metade do impacto se fosse todo em cores, por exemplo. O mais importante sempre vai ser passar a mensagem correta na arte, tipo uma cena triste e depressiva, não vai ser colorida de forma vibrante como uma cena de amor e felicidade em família, seria algo com cores menos saturadas, às vezes, tudo em escala de cinza se torna a melhor opção.
Isaac Tiago
Como artista, essa é uma das minhas maiores indecisões na hora de produzir uma arte. No caso das HQs, sempre existe a possibilidade de contar a mesma história de maneiras diferentes, inclusive contá-la em cores ou PB, porém, cada história "pede" para ser feita de um jeito ou de outro, devido a vários fatores como temática, ambientação, intenção, público alvo... E é aí que, de acordo com outros fatores, entra a indecisão: "faço colorida ou PB?" Por mais que uma obra "peça" determinado acabamento, fatores como o custo de produção influenciam diretamente a escolha, mas no meu caso existe um outro fator tão influente quanto, chamado Limitação Técnica. Admiro muitos estilos de arte em PB e gostaria de produzir mais materiais pensados com este acabamento, mas o que acontece é que acredito “NÃO saber trabalhar direito” a arte em preto e branco, sem parecer que está faltando algo, já fiz alguns trabalhos sem cores e busco sempre evoluir nos quesitos em que tenho dificuldade (inclusive meu último trabalho é em PB), mas ainda não me sinto tão confortável com esses resultados quanto fico com os coloridos, admiro muito o resultados dos outros artistas, mas em relação aos meus, sempre acho que falta algo, por isso, acabo sempre me rendendo às cores, que dificultam e prolongam a produção, e algumas vezes até impedem a publicação impressa. Tenho projetos engavetados por conta disso, o máximo que consegui foi publicá-los em versão digital, mas o prazer não é nem de longe o mesmo!
Luiz Prado
Quando eu desenho uma HQ, depende muito do tom da história para fazê-la preto e branco ou colorida. Por exemplo, se a história é um Noir ou um terror/ suspense, pode ser preferível fazê-la preto e branco, ou com tons de cinza, para dar uma ambientação ao gênero da história, agora, se a história é sobre super-heróis ou fantasia, que são gêneros de mais impacto visual, é preferível colorido, para dar uma riqueza visual à história. E sim, é claro que o custo e agilidade de produção também são levados em conta na hora das escolhas. Na hora de desenhar uma HQ, o mais importante é saber contar a sua história, com a maior riqueza de narrativa possível. Toda vez que eu preciso ilustrar uma página, por exemplo, eu penso no princípio de, se eu fosse contar essa história sem falas e balões, nenhum leitor conseguiria entender a história com base apenas nas ilustrações? Como artista, às vezes, a gente é tentado a fazer de cada página uma obra prima, bem detalhada, e colocando o nosso melhor, mas às vezes, a história requer apenas uma narrativa que seja precisa, ou seja, às vezes menos é mais.
Próxima discussão:
Roteiristas e Desenhistas: Você usa referências biográficas ou referências de imagens? O que pensa sobre isso? Aos desenhistas: O que a tecnologia mudou e melhorou o seu trabalho? Participe, envie sua opinião para andrecarim@outlook.com...
Ressurgindo...
Ressurgindo...
André Carim
O mundo dos quadrinhos nacionais é uma constante mutação, e o universo alternativo tem trazido diversos trabalhos de qualidade. Se não temos uma distribuição adequada e uma divulgação mais eficiente, não é por falta de esforço e competência.
Vemos hoje um cenário onde surgem artistas das mais variadas regiões do país e dos mais diversos estilos e gostos. O que falta é agregar todos esses talentos e criar uma rede de distribuição onde os trabalhos cheguem ao leitor brasileiro. Aos poucos os nossos jovens vão descobrindo que há vida no quadrinho nacional.
E o Múltiplo, levando adiante esse projeto de divulgação e distribuição de quadrinhos brasileiros, traz até você mais uma edição super especial, contando com a gentileza do amigo Mike Deodato, em nos conceder uma entrevista exclusiva, falando de seu trabalho no universo de quadrinhos da Marvel e demonstrando que o talento nacional pode ir muito mais longe do que todos nós imaginamos.
Também uma entrevista com o amigo Carlos Henry, ávido defensor dos Quadrinhos Nacionais e que fala um pouco de sua trajetória no universo de quadrinhos e de sua visão sobre tudo que acontece por aqui. Além, claro, da disposição em nos brindar com uma HQ do “Lobo Guará” e duas ilustrações.
Para completar a edição temos diversas HQs, dos mais variados estilos, tiras de Edgard Guimarães e Omar Viñole, além de ilustrações de primeira qualidade de grandes amigos.
Continuamos com ampla divulgação de alternativos, de quadrinhos nacionais e autorais bem como interação com os leitores e colaboradores do fanzine. Lembrando que em junho tem o especial delas, um Múltiplo somente com mulheres quadrinhistas, e você não pode perder... até lá!!!
André Carim
O mundo dos quadrinhos nacionais é uma constante mutação, e o universo alternativo tem trazido diversos trabalhos de qualidade. Se não temos uma distribuição adequada e uma divulgação mais eficiente, não é por falta de esforço e competência.
Vemos hoje um cenário onde surgem artistas das mais variadas regiões do país e dos mais diversos estilos e gostos. O que falta é agregar todos esses talentos e criar uma rede de distribuição onde os trabalhos cheguem ao leitor brasileiro. Aos poucos os nossos jovens vão descobrindo que há vida no quadrinho nacional.
E o Múltiplo, levando adiante esse projeto de divulgação e distribuição de quadrinhos brasileiros, traz até você mais uma edição super especial, contando com a gentileza do amigo Mike Deodato, em nos conceder uma entrevista exclusiva, falando de seu trabalho no universo de quadrinhos da Marvel e demonstrando que o talento nacional pode ir muito mais longe do que todos nós imaginamos.
Também uma entrevista com o amigo Carlos Henry, ávido defensor dos Quadrinhos Nacionais e que fala um pouco de sua trajetória no universo de quadrinhos e de sua visão sobre tudo que acontece por aqui. Além, claro, da disposição em nos brindar com uma HQ do “Lobo Guará” e duas ilustrações.
Para completar a edição temos diversas HQs, dos mais variados estilos, tiras de Edgard Guimarães e Omar Viñole, além de ilustrações de primeira qualidade de grandes amigos.
Continuamos com ampla divulgação de alternativos, de quadrinhos nacionais e autorais bem como interação com os leitores e colaboradores do fanzine. Lembrando que em junho tem o especial delas, um Múltiplo somente com mulheres quadrinhistas, e você não pode perder... até lá!!!
quinta-feira, 27 de abril de 2017
SHIMAMOTO, O MESTRE - Fanzine Ilustrado 2 - Abril de 2017
Julio Shimamoto nos presenteia com mais uma obra de arte... um Fanzine Ilustrado Autoral com diversos trabalhos seus, desenhos, pinturas e ilustrações de primeira do nosso mestre dos quadrinhos!!! Um verdadeiro presente para os amantes da arte desse quadrinhista essencial no mundo dos Quadrinhos Nacionais... curtam mais esse trabalho sensacional do Mestre Shimamoto...
Fanzine Ilustrado 2 - Julio Shimamoto - Abril_2017 by André Carim on Scribd
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Múltiplo 7 - Maio de 2017
EDIÇÃO CHEGANDO COM SUPER ENTREVISTAS DE MIKE DEODATO E CARLOS HENRY, MUITA HQ, ARTIGOS INTERESSANTES E INTERATIVIDADE!
Múltiplo 7 by André Carim on Scribd
terça-feira, 25 de abril de 2017
FORÇA UNIVERSO EPISÓDIO 5 – MARCOS GRATÃO
Já saiu o novo episódio de FORÇA UNIVERSO, e este capítulo está demais. Muita luta, ação e aventura, sem deixar de lado a comédia tradicional de sempre! Pedro, Chimba e Sumi estão cara-a-cara com o General Ibira, um poderoso alienígena do império Avan-Han-Dav. Será que eles conseguirão vencê-lo?
Força Universo é uma animação no estilo cartoon puxada para as animações japonesas, onde todas as pessoas da Terra se unem para lutarem contra seres alienígenas em robôs gigantescos e muito po-derosos. A história e animação é feita por Marcos Gratão, e conta com vários amigos fazendo as vozes originais dos personagens, e assim, dando vida a eles. Você pode assistir aos episódios acessando o site: www.marcosgratao.com/fu.
Também há os quadrinhos, onde você poderá conhecer melhor os personagens, saber mais sobre a Força Universo e entenderá tudo o que aconteceu com a Humanidade! Já com 4 revistas em PDF liberadas, a HQ também pode ser baixada no site ou solicitada por e-mail através do endereço: marcos.gratao@gmail.com
Acesse já o site www.marcosgratao.com/fu ou o canal do youtube!: https://www.youtube.com/channel/UCvEjQXbtfbEr57Ly_UN0Fwg
Força Universo é uma animação no estilo cartoon puxada para as animações japonesas, onde todas as pessoas da Terra se unem para lutarem contra seres alienígenas em robôs gigantescos e muito po-derosos. A história e animação é feita por Marcos Gratão, e conta com vários amigos fazendo as vozes originais dos personagens, e assim, dando vida a eles. Você pode assistir aos episódios acessando o site: www.marcosgratao.com/fu.
Também há os quadrinhos, onde você poderá conhecer melhor os personagens, saber mais sobre a Força Universo e entenderá tudo o que aconteceu com a Humanidade! Já com 4 revistas em PDF liberadas, a HQ também pode ser baixada no site ou solicitada por e-mail através do endereço: marcos.gratao@gmail.com
Acesse já o site www.marcosgratao.com/fu ou o canal do youtube!: https://www.youtube.com/channel/UCvEjQXbtfbEr57Ly_UN0Fwg
INFORMATIVO DE QUADRINHOS INDEPENDENTES - NASCE O PROJETO
Revendo alguns Múltiplos antigos, da primeira fase do fanzine, que me chegaram ontem pelo correio, cortesia do amigo Edgard Guimarães, encontrei essa relíquia entre as páginas do fanzine. Praticamente era o início do projeto do Edgard Guimarães da edição de seu informativo, na época, chamado de Informativo de Quadrinhos Independentes, vindo a se chamar atualmente apenas Quadrinhos Independentes (QI). Mas foi aqui, nas páginas do Múltiplo, ano de 1992, que germinou a semente desse importante informativo publicado pelo Edgard por tantos anos e de forma ininterrupta. Espero que curtam...
segunda-feira, 24 de abril de 2017
MONDO LAUDO
Juntamente com o Social Comics, criei o selo Mondo Laudo, que irá disponibilizar uma parte de alguns trabalhos meus lançados há muitos anos atrás e mesmo recentemente.
Entre eles está toda a série da Tianinha (todos os nove anos de produção), mais duas séries eróticas produzidas na mesma época, "Debie e Mônica" e "2+ Uns", uma revista digital inédita "Plano de Vôo", com hq's curtas que foram produzidas para diversas publicações; além das coletâneas das tirinhas do "David Escarlate" e "Banda Mamão". Mais umas coisinhas aí pela frente...
A primeira parte da minissérie "Depois da Meia-Noite" já está disponível na plataforma". Confere lá.
https://www.socialcomics.com.br/depois-da-meia-noite/1
Entre eles está toda a série da Tianinha (todos os nove anos de produção), mais duas séries eróticas produzidas na mesma época, "Debie e Mônica" e "2+ Uns", uma revista digital inédita "Plano de Vôo", com hq's curtas que foram produzidas para diversas publicações; além das coletâneas das tirinhas do "David Escarlate" e "Banda Mamão". Mais umas coisinhas aí pela frente...
A primeira parte da minissérie "Depois da Meia-Noite" já está disponível na plataforma". Confere lá.
https://www.socialcomics.com.br/depois-da-meia-noite/1
quinta-feira, 20 de abril de 2017
LIVRO DE CALAZANS A CAMINHO
Está em vias de impressão o novo Manual do Direito Autoral (com o que todo quadrinhista, cartunista ou ilustrador deve saber e não sabia pra quem perguntar). O autor é Flavio Calazans: bacharel em direito e comunicação, professor, chargista, fanzineiro e quadrinhista (criador do fanzine Barata de Santos, dos álbuns A Guerra dos Golfinhos, Sumidouro, A Guerra das Ideias, Absurdo, entre muitas outras) e membro da diretoria da AQC nos anos 80.
Flávio Calazans é doutor pela ECA USP, publicou quadrinhos como tiras de jornal e em revistas como "Brazilian Heavy Metal" e na Editora Abril, e ábuns (Graphic Novels) como "Guerra das Ideias", Guera dos Golfinhos", "A Hora da Horta" e outros.
- Em 1987 escreveu e publicou a "CARTILHA DE DIREITO AUTORAL DA AQC", PRIMEIRO livro sobre Direito autoral específico dos Quadrinhos do BRASIL publicado e distribuído pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas de São Paulo (AQC-SP), 1986 onde prestou CONSULTORIA de DIREITO AUTORAL.
-Fundador e Coordenador do Grupo de Trabalho “Humor e Quadrinhos” no Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, de 1995 a 2000, o PRIMEIRO grupo de pesquisa de quadrinhos oficial no Congresso de Comunicação INTERCOM.- Organizador do livro com pesquisas do GTHQ - Histórias em Quadrinhos no Brasil: Teoria e Prática. São Paulo, INTERCOM/Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, GT Humor eQuadrinhos, 1997. (Coleção GTs INTERCOM, v. 7) (Organizador) ISBN 85-900400-1-1;
- Calazans também escreveu o livro "Histórias em Quadrinhos na Escola" - TERCEIRA edição, editora PAULUS São Paulo, ISBN 85-349-2140-7 . PRIMEIRO livro do Brasil sobre o uso de quadrinhos para ensino em escolas.
-Membro do Juri e Jurado na I BIENAL DE HQ DO RIO , Rio de Janeiro, 1991-
Calazans também escreveu o primeiro livro sobre subliminares em idioma português, adaptado de suas teses de mestrado e de doutorado na ECA USP, "Propaganda Subliminar Multimídia" em SÉTIMA edição ampliada pela Summus editorial.
AGRADECIMENTOS
"Meus sinceros e públicos AGRADECIMENTOS a todos sem cujo empenho e esforço ajudando este livro não seria possível.
Agradeço aos amigos autores de quadrinhos que deram depoimentos como Adrovando Claro de Oliveira e Leonardo Tarcisio Gimenez,
Agradeço aos advogados Marcos Abussafi, Marcilio de Barros Melo Santos, Tiago Coelho, Shirlei Massapust, Gustavo Aguiar, Helena Tomimoto, Anna Mazagão, e muitos outros, incluindo Promotores e Juízes que solicitaram não ser citados nominalmente e todos colaboraram sem esperar retribuição nem pagamento.
Agradeço minha esposa Ivany Sevarolli que leu, revisou e deu sugestões, além de escrever minha biografia-curriculum dese livro.
Igualmente agradeço a Worney Almeida de Souza e Bira da AQC que acreditaram e incentivaram este projeto em 1985 e nesta segunda edição em 2016.
Agradeço a meus avós, pais e familiares que apoiaram e incentivaram minha vocação e a dedicação de tempo, dinheiro e esforços à área das Histórias em Quadrinhos.
sábado, 8 de abril de 2017
Mestre Ota em Goiânia, com Edgar Franco, o Ciberpajé
O Ciberpajé e o grande mestre Ota, quadrinista gênio da HQ de humor e editor responsável pelas revistas de horror da lendária Vecchi (Spektro, Pesadelo, Sobrenatural), tendo revelado o talento de mestres como Elmano Silva, Watson Portela e Zenival, e resgatado outros como Shimamoto e Colin. Como se não bastassem esses feitos históricos foi também o responsável por trazer a revista MAD para o Brasil, para depois tornar-se um de seus principais autores com os incríveis "Relatórios Ota", aguardados por todos em cada nova edição. Ota esteve ontem em Goiânia palestrando sobre sua vida e obra, a convite do agitador cultural Márcio Paixão Júnior. A palestra foi sensacional e ainda adquiri exemplares de novos trabalhos do mestre, como a revista "A Garota Bipolar", e entre os autógrafos, num dos cantos, ele fez um desenho do Ciberpajé sem que eu pedisse, com seu traço único. Grande honra pra mim. Longa vida mestre Ota, continue criando e nos brindando com sua arte! Quem estiver em Goiânia hoje ainda tem a chance de se encontrar com o mestre Ota e pegar um autógrafo, pela manhã, às 10:00h ele estará no CALÇADÃO HOCUS POCUS! E às 15h na MANDRAKE COMIC SHOP. Não percam!
(Ciberpajé e Ota fotografados pela I Sacerdotisa Rose Franco)
(Ciberpajé e Ota fotografados pela I Sacerdotisa Rose Franco)
RESENHA DE ALBERTO DE SOUZA, BERALTO - MÚLTIPLO 6
ZINE MÚLTIPLO 6
Capa zine Múltiplo 6
Ao elencarmos as publicações de zine dedicados à nona arte da safra atual, não se pode deixar de fora a menção de destaque ao Múltiplo. André Carim, mineiro de Carangola, é um incansável editor que tem mantido uma regularidade mensal ao zine, às vezes incomum até mesmo para publicações comerciais.
Juvêncio Veloso um dos
entrevistados da edição, junto com
Gazy Andraus
Para companharmos tamanha produtividade de forma atualizada, nos propusemos a fazer uma leitura dinâmica e começarmos a comentar a publicação antes que saia a próxima edição.
O Múltiplo 6 apresenta 104 páginas de quadrinhos, entrevistas, enquetes e sessão de mensagens dos leitores, e, como o título do zine sugere, a proposta é eclética, apresentando váriados estilos e propostas criativas. Na presente edição os entrevistados são Juvêncio Veloso e Gazy Andraus, dois veteranos no meio zineiro, que revelam detalhes de seu processo criativo, sua paixão pelos quadrinhos e suas vivências no meio fanzineiro, profissional e pessoal. A novidade da edição é a entrevista colaborativa com perguntas enviadas por leitores aos entrevistados, interessante proposta que o editor pretende manter a partir desta edição.
HQ da Agente Laranja
Roteiro e Arte de Cayman
Cayman Moreira, versátil artista cearense, roteirizou e desenhou a HQ de abertura, trazendo a Agente Laranja, personagem criada pelo André Carim, cuja arte, com nítida influência da escola bonelliana, apresenta uma bela bela solução de arte-final à grafite. Completam o seleto time de colaboradores Omar Viñole, Salatheil Anacleto, Flavio Calazans, Edgar Guimarães, Orlando Costa, Wanderley Feliciano, Bira Dantas, Edgar Guimarães, Edgar Franco, Rafel e Watson Portela.
Watson Portela, mestre da HQB sempre apoiando os quadrinhos independentes.
Destacamos a HQ "Cérebro Canibal" que traz o grande mestre da HQB, Watson Portela, em parceria com seu filho Rafael, para matar a saudade dos fãs que admiram o genial veterano, recentemente completando 50 anos de carreira nos quadrinhos. Outra novidade é a republicação de uma HQ dos Trapalhões produzida na fase do Estúdio Ely Barbosa pelo trio Orlando/Bira/Wanderlei.
O Múltiplo tem adotado a estratégia de disponibilizar a versão online a cada mês, com a opção do leitor adquirir a versão física impressa sob demanda, solução que se ajusta bem ao entusiasmo e regularidade do faneditor André Carim.
Portanto, se você curte quadrinhos independentes e fanzines não deixe de conferir o Múltiplo, uma iniciativa oriunda da era pré-internet e que retornou, atualizando-se ao dispor de novas soluções de impressão e veiculação, trazendo uma publicação que agrada e agrega fãs e autores de HQ, sejam amadores ou profissionais e que tem seu trunfo na dedicação e paixão do editor/roteirista André Carim, incansável em promover uma excelente articulação junto à comunidade independente, tal como a edição do Múltiplo exclusiva de quadrinhistas mulheres que será lançada em breve.
Para acessar as edições do Múltiplo e adquirir os exemplares impressos acesse:
http://multiplozine.blogspot.com.br/
https://www.facebook.com/andrecarim
https://www.facebook.com/multiplosHQ2016/
Para acessar e ler online o Múltiplo 6:
https://pt.scribd.com/document/343603754/Multiplo-6-PDF#from_embed
Capa zine Múltiplo 6
Ao elencarmos as publicações de zine dedicados à nona arte da safra atual, não se pode deixar de fora a menção de destaque ao Múltiplo. André Carim, mineiro de Carangola, é um incansável editor que tem mantido uma regularidade mensal ao zine, às vezes incomum até mesmo para publicações comerciais.
Juvêncio Veloso um dos
entrevistados da edição, junto com
Gazy Andraus
Para companharmos tamanha produtividade de forma atualizada, nos propusemos a fazer uma leitura dinâmica e começarmos a comentar a publicação antes que saia a próxima edição.
O Múltiplo 6 apresenta 104 páginas de quadrinhos, entrevistas, enquetes e sessão de mensagens dos leitores, e, como o título do zine sugere, a proposta é eclética, apresentando váriados estilos e propostas criativas. Na presente edição os entrevistados são Juvêncio Veloso e Gazy Andraus, dois veteranos no meio zineiro, que revelam detalhes de seu processo criativo, sua paixão pelos quadrinhos e suas vivências no meio fanzineiro, profissional e pessoal. A novidade da edição é a entrevista colaborativa com perguntas enviadas por leitores aos entrevistados, interessante proposta que o editor pretende manter a partir desta edição.
HQ da Agente Laranja
Roteiro e Arte de Cayman
Cayman Moreira, versátil artista cearense, roteirizou e desenhou a HQ de abertura, trazendo a Agente Laranja, personagem criada pelo André Carim, cuja arte, com nítida influência da escola bonelliana, apresenta uma bela bela solução de arte-final à grafite. Completam o seleto time de colaboradores Omar Viñole, Salatheil Anacleto, Flavio Calazans, Edgar Guimarães, Orlando Costa, Wanderley Feliciano, Bira Dantas, Edgar Guimarães, Edgar Franco, Rafel e Watson Portela.
Watson Portela, mestre da HQB sempre apoiando os quadrinhos independentes.
Destacamos a HQ "Cérebro Canibal" que traz o grande mestre da HQB, Watson Portela, em parceria com seu filho Rafael, para matar a saudade dos fãs que admiram o genial veterano, recentemente completando 50 anos de carreira nos quadrinhos. Outra novidade é a republicação de uma HQ dos Trapalhões produzida na fase do Estúdio Ely Barbosa pelo trio Orlando/Bira/Wanderlei.
O Múltiplo tem adotado a estratégia de disponibilizar a versão online a cada mês, com a opção do leitor adquirir a versão física impressa sob demanda, solução que se ajusta bem ao entusiasmo e regularidade do faneditor André Carim.
Portanto, se você curte quadrinhos independentes e fanzines não deixe de conferir o Múltiplo, uma iniciativa oriunda da era pré-internet e que retornou, atualizando-se ao dispor de novas soluções de impressão e veiculação, trazendo uma publicação que agrada e agrega fãs e autores de HQ, sejam amadores ou profissionais e que tem seu trunfo na dedicação e paixão do editor/roteirista André Carim, incansável em promover uma excelente articulação junto à comunidade independente, tal como a edição do Múltiplo exclusiva de quadrinhistas mulheres que será lançada em breve.
Para acessar as edições do Múltiplo e adquirir os exemplares impressos acesse:
http://multiplozine.blogspot.com.br/
https://www.facebook.com/andrecarim
https://www.facebook.com/multiplosHQ2016/
Para acessar e ler online o Múltiplo 6:
https://pt.scribd.com/document/343603754/Multiplo-6-PDF#from_embed
segunda-feira, 3 de abril de 2017
REVISTA BILLY THE KID & OUTRAS HISTÓRIAS
Revista Billy The Kid & Outras Histórias
Coleção já tem 26 edições, mais de 580 pgs. de faroeste em quadrinhos, tem publicados trabalhos de Shimamoto, Saidenberg, Adauto Silva, Sennes, Elthz, Luga, Ailton Elias, Chibilski, Júlio Emílio Braz, Arthur Filho, Laudo, Edvan Bezerra, Tony Fernandes, José Menezes, Sandro Marcelo,desenhos exclusivos de Font, Diso (da Tex) e muito mais.
Editora Opção2, editor e coautor Arthur Filho - contatos, pedidos: arthur.goju@bol.com.br
Coleção já tem 26 edições, mais de 580 pgs. de faroeste em quadrinhos, tem publicados trabalhos de Shimamoto, Saidenberg, Adauto Silva, Sennes, Elthz, Luga, Ailton Elias, Chibilski, Júlio Emílio Braz, Arthur Filho, Laudo, Edvan Bezerra, Tony Fernandes, José Menezes, Sandro Marcelo,desenhos exclusivos de Font, Diso (da Tex) e muito mais.
Editora Opção2, editor e coautor Arthur Filho - contatos, pedidos: arthur.goju@bol.com.br
ENTREVISTA GAZY ANDRAUS - MÚLTIPLO 6
Inauguramos nesta edição mais uma novidade, mais uma alternativa de interatividade a que tenho proposto com frequência entre vocês, leitores e colaboradores do Múltiplo... uma forma de aproximar mais o artista do fã, estreitar laços e proporcionar que todos possam conhecer melhor o trabalho do quadrinhista... e para começar teremos uma super entrevista com Gazy Andraus, um apaixonado por HQs e que se pro-pôs de imediato a nos atender quando da oferta dessa entrevista participativa e interativa... espero que todos curtam... boa leitura...
Múltiplo: Como você se considera quando falamos de quadrinhos?
Gazy Andraus: Alguém que sempre (mas sempre mesmo), se maravilhou desde pequeno, ao ver aquelas imagens pequenas separadas por retângulos, impressas colorizadas numa revista, num mistério insondável e irrespondível acerca de sua beleza e atração desmesurada cujos desenhos têm exercido em mim fascínio, tanto a meus olhos, como à minha mente!
Múltiplo: O que seria HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: Um tipo de História em Quadrinhos (HQ) cuja mensagem sintetizada traz a reflexão, numa narrativa não linear, similar ao que faz e ao que é um haikai (ou haicai) à literatura, porém, de maneira imagético-textual.
Múltiplo: Pelo que vi em alguns artigos e material de internet, você produziu diversos fanzines. Nos fale um pouco sobre isso.
Gazy Andraus: Meu início de publicação foi pelos fanzines. Assim, é uma relação importante e simbiótica como parte integrante e coroamento de produções de HQs e afins, em que realizo um fanzine autoral ano a ano, no mínimo. Além de participar vez ou outra de outros zines, colaborando com eles no envio de HQs e/ou textos. Os fanzines são imprescindíveis, porque permitem-nos fazer todo o processo, desde a elaboração das HQs à publicação delas e distribuição, como num desenvolvimento alquímico.
Múltiplo: Se considera um pesquisador? Nos conte sobre.
Gazy Andraus: Sim, pois em essência, todos o somos. Porém, alguns enveredam pelo caminho, tentando desvendar questões que pululam em nossas mentes, enquanto que outros não se aprofundam em resolvê-las, atuando na vida de outras maneiras. No meu caso, a instigante saga das HQs e sua intrigante falta de valorização antes atestada pela sociedade, fez-me querer entender a raiz e razão disso, já que via nelas (nas HQs), algo de maravilhoso e importante que não poderia ser mantido em desacordo com seu valor por mim aventado. Esse era um dos tópicos mais importantes que me fizeram singrar a área acadêmica e de pesquisas desvelando as histórias em quadrinhos (ou parte delas) e sua importância num mestrado e doutorado. Ainda assim, não fico estagnado apenas nesse tema das HQs e fanzines, mas me interessa o ser humano em essência, o planeta em que vivemos e o uni-verso e suas imbricações (pois que cheguei até a fazer um curso rápido de astronomia quando cursava artes na UFG em 1986 para 1987).
Múltiplo: Como você separaria a HQ tradicional da HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: O paralelo que traço para que se possa compreender, é relacionar a poesia haicai japonesa à literatura: não é um conto, um romance ou texto descritivo ou uma narrativa épica, mas ainda assim, pertence ao rol da chamada Literatura! Há os que dele gostem (do haicai) e os que não o apreciem. Assim o são as HQs poético-filosóficas (ou fantástico-filosóficas): são geralmente elípticas como nas poesias haicais e há muitos que não lhas gostam, porque suas narrativas não são lineares como as tradicionais histórias em quadrinhos. Mas são HQs, apesar de tudo, assim como haicais são literatura!
Múltiplo: Como foi ganhar o Troféu HQ Mix na categoria “melhor tese de doutorado”? Nos conte sobre o que você fala nesta tese.
Gazy Andraus: Foi um reconhecimento de um trabalho exaustivo e longo, e pelo qual só fui entender e responder o seu cerne no último dos quatro anos do doutorado que levei para finalizá-lo: cursei disciplinas de pós, elaborei artigos para elas, para congressos, fui lendo, relendo, escrevendo, pesquisando, até que consegui entender que a mente é integrada, mas que a depender do input, pode ou não se tornar mais (ou menos) afeita às artes e à apreciação de linguagens como os desenhos. E descobri que é o que aconteceu com a humanidade: ao desenvolver-se muito na racionalidade acabou por atrofiar áreas em atividade do cérebro que reconheceriam intuitivamente as artes e os desenhos (ficando nossa mente preconceituosa), as quais dialogariam melhor com outras regiões atinentes ao pensamento racional e à escrita fonética, o que tornaria a mente mais expansiva na inteligência, equilibrando o uso dos hemisférios cerebrais esquerdo (racional) e direito (criativo), desenvolvendo uma mente integrada, salutar e melhor equilibrada. Descobri isso lendo e estudando ciência cognitiva, e constatando que os experimentos científicos apontavam, por tomografias computadorizadas que, por exemplo, áreas distintas dos hemisférios cerebrais entravam em mais ou menos atividades quando recebiam incentivos: como exemplo, na leitura de imagens e ideogramas, mais porções do hemisfério direito acusavam respostas, enquanto que na leitura de textos (fonemas) havia supremacia do esquerdo entrando em atividade.
Isso tudo criou na nossa mente “cindida”, a racionalidade excludente que gerava o preconceito contra o que ela pensava ser menos importante: no caso, as HQs, por serem imagens, e as imagens à mente racional que lê textos, eram consideradas informação irrelevante, o que é um engodo total que vai caindo década após década, já que tudo é informação necessária, tanto a escrita como o desenho. Porém, a maneira como atuam tais informações em nossas mentes é que se apresenta distinta e necessária para um dialogismo sistêmico e de manutenção amplificada de nossas mentes, que são neuroplásticas - se usarmos, expandem-se, se não, atrofiam-se. Ou seja, se não damos valor às imagens e aos desenhos, e as lemos menos, não conseguimos acionar áreas prontas para se ativar suficientemente e conjugarem-se com outras, deixando-nos até menos criativos. Na educação cartesiana, esse tem sido o maior erro, e os quadrinhos podem ajudar a melhorar, pois são expressões artísticas. Por isso, quando recebi a notícia do prêmio em 2007, fiquei contente, por saber (e confirmar) que fiz um trabalho correto e essencial à área das HQs (e da educação e pedagogia, em especial, universitárias).
Múltiplo: Você faz palestras? Sobre qual tema você trabalha?
Gazy Andraus: Sim, abordando tudo o que discorri anteriormente, mas enfocando para quaisquer áreas adjacentes: se às artes, mostro HQs e afins pertinentes, se à educação, explano a importância das HQs com amostragens, à Pedagogia e Letras idem, e por aí vai. Tanto em escolas, como em cursos universitários de graduação e pós-graduação. Também faço o mesmo com relação aos fanzines e sua essencialidade como parte da liberdade humana de criar e confraternizar com as ideias e expressões artísticas. Minhas palestras e cursos, assim, vão abarcando principalmente desde as artes, HQs, fanzines, ciência cognitiva e mudanças paradigmáticas científico-educacionais.
Múltiplo: Seus quadrinhos limitam-se apenas a HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: Em geral, na atualidade (desde a década de 1990 principalmente), sim. É como uma vontade interna de liberar o processo (principalmente se estou sob a audição de músicas): tem que ser rápido e direto (muitas vezes à tinta, sem esboço prévio).
Múltiplo: Como surgiu essa ideia de produção de HQS?
Gazy Andraus: Foi se tornando natural a partir de uma mescla de estilos baseada na leitura de HQs europeias, em especial de autores franceses como Moebius, Druillet e especialmente Caza. Mas esse processo, que natural, aconteceu não só a mim, como provavelmente a alguns outros, como Edgar Franco, Antônio Amaral, e antes a Henry Jaepelt e Flávio Calazans, mas para certeza com relação a eles perguntando também.
Múltiplo: Desde quando se interessa por HQs?
Gazy Andraus: Desde quando comecei a ler, aos meus 7 anos de idade: então, Disney, Maurício de Sousa, outros autores que não mais estão, como Perotti, Canini etc. Mas na infância, obviamente eu não sabia muito dessas autoralidades, e sim de seus personagens como Mickey, Cebolinha, Gabola, Kactus Kid, dentre outros inclusive estrangeiros que eram publicados no Brasil, como Mortadelo e Salaminho do espanhol F. Ibañez etc. Só na adolescência, aos 12 ou 13 anos em diante é que fui passando aos super-heróis, e depois, no início da maturidade, aos europeus e poéticos.
Múltiplo: Já trabalhou em parceria? Como foi? Gosta deste tipo de trabalho?
Gazy Andraus: Trabalhei e trabalho, embora pouco. Fiz parcerias várias, com Edgar Franco, Feijó, Del Bianco, Cícero, Matheus Moura, Sandro (e até passei um esboço para Jaepelt, que ainda aguardo-o concretizá-lo). Mas as parcerias são raras devido a nossos estilos, que em geral é distinto do mainstream e requer uma autoralidade mais complexa. O meu mais recente trabalho em parceria foi o fanzine “Fraterimagenes”, em que convidei diversos autores para ilustrarem meus poemas, dentre eles, E. Franco, Danielle Barros, Mozart Couto, Beralto, H. Jaepelt, Thaisa Maia e a cor na capa de Silvio Ribeiro.
Ao mesmo tempo, no meu trabalho quando palestro e dou cursos, já trabalhei em parceria, também com Edgar Franco, Márcio Gomes, Fernanda de Aragão, Jorge Del Bianco e até já montei dois grandes eventos de HQs e zines para o Centro Cultural da Juventude de SP, sendo curador, e trazendo nomes como Laerte e Sérgio Macedo, bem como E. Franco, Daniel Esteves, Laudo etc. Para a Gibiteca de Santos, desde 2012 e 2013 venho me juntando a outros co-mo Fabiano Geraldo, Thina Curtis, Fábio Tatsubô, Dani Marino, trazendo o evento anualmente em outubro em comemoração ao Dia Nacional do Fanzine. Integro também a Comissão do Troféu Ângelo Agostini, trabalhando junto de Bira Dantas, Alexandre Silva e Marcos Venceslau dentre outros que premia autores de HQs e fanzines no Brasil, num evento bastante empolgante que ocorre no Memorial da América Latina, perto da data do dia Nacional dos Quadrinhos, em final de janeiro.
Múltiplo: Há quanto tempo você desenha?
Gazy Andraus: Desde criança, como todo mundo. Só que a maioria larga os desenhos conforme vai deixando a infância, devido a várias motivações, mas especialmente o sistema escolar e o sistema social que não veem ainda o valor correto para o ato de desenhar (conforme expliquei na minha tese), sem saber que isso amplificaria a inteligência.
Múltiplo: Já publicou profissionalmente?
Gazy Andraus: Sim. Não muitas vezes, mas já em revistas como Metal Pesado, Heavy Metal Brazilian, Camiño di Rato, e um álbum, o “Ternário M.E.N.” com a Editora Marca de Fantasia. Recentemente saiu um livro meu de desenhos na linha “Sketchbook Custom” da Ed. Criativo (http://editoracriativo.com.br/produtos/exibir/203/gazy-andraus-sketchbook-custom#) e está no prelo outra participação minha na nova série da mesma editora, chamada “Post Art” com desenhos coloridos. A maioria de minhas publicações artísticas está nos fanzines de vários editores (e nos meus), e tenho grande publicação de textos em congressos e capítulos de livros na área acadêmica também.
Múltiplo: Como é o seu modo de criação?
Gazy Andraus: Música! Como não sou músico, arranjei outra maneira de elaborar musicalidade: ao ouvir sons (heavy metal, prog rock, instrumentais etc.), eu despejo no papel de maneira ritmada – ao som do que escuto, que amplifica minha consciência – os desenhos diretamente sem esboços prévios, com textos que vão formando as HQs poéticas. Tenho até um vídeo que apresento isso para uma plateia acadêmica. Veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=k3d_xuog7Uk .
Múltiplo: O que você vê de bom no cenário de quadrinhos Independentes?
Gazy Andraus: Tudo: a criatividade pulsante e pungente, que não tem a ver com o sistema anacrônico oficial, e que engessa tudo para obter lucro com mesmices e repetições à exaustão. Nos fanzines, por exemplo, há a criatividade em títulos e textos, e a prova cabal é o desenvolvimento de um típico quadrinho nacional poético que se consagrou no fanzinato da década de 1990 principalmente e fez história (e ainda continua fazendo).
Múltiplo: Acha que o Quadrinho Nacional teve alguma evolução durante os últimos anos?
Gazy Andraus: Sim, claro. Alguns dos expoentes que estavam no fanzinato, como por exemplo Laudo, mostram sua evolução. Vide seu magnífico trabalho “Yeshuah”. Outros como Edgar Franco ainda mantêm um pé lá e na profissionalização, com sua revista “Artlectos e Pós-Humanos” pela Marca de Fantasia. Roteiristas como Daniel Esteves mostram o valor a que chegaram, incluindo novos expoentes como Bruno Bispo e Victor Freundt.
Múltiplo: Nos fale sobre o que você considera “Fanzines”, uma definição.
Gazy Andraus: Como disse a pesquisadora Zavan em seu texto de 2004 “Fanzine: a pluralidade Paratópica”, é uma revista “paratópica”, ou seja: existe na não oficialidade das editorações, não existindo oficialmente, mas fazendo parte integrante do processo de criação dos que querem e precisam trazer seu universo de criação! Costumo brincar que o fanzine (ou zine) é como a micropartícula da física quântica: esta paradoxal, pois é ao mesmo tempo partícula e onda – enquanto que o zine também o é, já que ao mesmo tempo que existe (não oficialmente), não existe (oficialmente) – logo, é dual, rico e “quântico”. Quando você pensa que o compreendeu, ele lhe foge. Quando você percebe que não vai compreendê-lo, ele lhe vem e lhe pega e te faz lançá-lo como parte de si. Atualmente, o fanzine se divide basicamente em 3 categorias, a meu ver: a do tradicional, publicando artes e textos; a dos que o elevam à categoria de revistas artísticas (e que pedem para chamá-lo apenas de “zine” sem a pecha de “fã”) e os da área da educação ou que servem ao ensino (como os Gibiozines de Hylio, prof. da UFSCAR ou os Peibê de Beralto do IFFluminense).
Múltiplo: Fale-nos um pouco sobre você. Onde nasceu? Sua idade, formação acadêmica…
Gazy Andraus: Nasci em Ituiutaba-MG, como meu conterrâneo Edgar Franco. Mas brinco dizendo que fui “fabricado” no Líbano, e viajei de navio (no útero de minha mãe), vindo a ser “desenvasado” no Brasil, em Minas! Tenho agora 50 anos, mas a energia ainda me remanesce forte! Tenho licenciatura em artes pela FAAP/SP, mestrado em artes pela UNESP/SP e doutorado em Ciências da Comunicação pela USP, mas minha formação inteira é eclética e interdisciplinar (no doutorado falo de fanzines, falo de ciência cognitiva e mudança de paradigma da ciência clássica à quântica que pede contraparte na educação descompassada e anacrônica). Também tenho outras atividades que realizava muito, como caminhadas peripatético-sonoras (andava muito ouvindo músicas e criando na mente, num prazer intenso que atualmente faço menos), e jogo basquete (atualmente também menos devido ao joelho): foi no esporte também que percebi o processo criativo de outra maneira, como o percebia no ato de desenhar. Nas jogadas, o corpo também se comporta criativamente se nos situarmos em uníssono ao momentum... coisa que me era muito difícil no aprendizado (tanto no jogo, como no ato de deitar a caneta e deixar a tinta rolar diretamente e sem esbo-ço prévio, similarmente à atitude que se tem numa ação desportiva após a outra).
Múltiplo: Você começou no mercado independente publicando em zines como Barata, Quadritos e Fantasia Filosófica. Conte-nos um pouco como foi esse início de carreira, se você teve algum empecilho para divulgação de seu trabalho, como foi a aceitação das editoras.
Gazy Andraus: Na verdade, a publicação em fanzines era como quase um imperativo nas décadas de 80 e 90, pois os autores e aspirantes a quadrinhistas no Brasil não tinham outro caminho. E é por isso que agradeço aos fanzines, e a esse tipo de problemática que havia no Brasil: graças a isso, a confraternização zineira se estendeu de norte a sul e leste e oeste indo ao estrangeiro.
Nem tenho como reclamar de editores, porque isso quase não existia para nós. Atualmente vejo outro quadro no Brasil, mas ainda assim, tirando parcos editores comerciais, a maio-ria não dá o valor devido às HQs poéticas, por justamente achar que são inferiores às HQs de narrativas longas, o que é um engano: são distintas, e ambas contendo valores únicos e potentes.
Múltiplo: Com a evolução dos meios de comunicação, prin-cipalmente a internet, está mais fácil hoje um artista conseguir viver de sua arte com a visibilidade que eles poderão alcançar a partir dessas mudanças?
Gazy Andraus: Parece-me que sim. O outro lado da coisa é a pulverização de públicos e ampliação de nichos, o que também contribui para serem menos os leitores, embora mais agrupados. Mas daí volto a lembrar-me que a Internet permite uma difusão maior e mais rápida do que jamais havia antes do advento dela (embora, como falei, alcançando nichos mais subdivididos). De toda maneira, ainda a editoração e publicação em papel é mais forte. Eu mesmo prefiro ler gibis e álbuns de HQs em papel que no monitor.
Múltiplo: Quais são os artistas independentes que você destaca hoje?
Gazy Andraus: Edgar Franco, Bruno Bispo e Victor Freundt, Laudo, Jaepelt, e editores e faneditores como Denílson Reis (Tchê), Clodoaldo Cruz (Cabal), Henrique Magalhães (Marca de Fantasia), Edgard Guimarães (QI), Marcos Freitas (Ed. Atomic), dentre outros.
Múltiplo: Quais são os seus atuais projetos/trabalhos? E os futuros?
Gazy Andraus: Continuar desenvolvendo projetos artísticos/acadêmicos, e me manter criando HQs poéticas, bem como lecionando em cursos universitários. Um de meus projetos atuais são as transposições de desenhos e HQs curtas para a possibilidade de impressão 3D (com o software “3D Build” do Windows 10). Até já fiz um fanzine para isso, o “3D’Imagens”, aventando a hipótese de realizar uma exposição de HQs e desenhos impressos em 3D, futuramente!
Múltiplo: Atualmente, quais HQs nacionais você destaca?
Gazy Andraus: Tenho lido poucas HQs, sejam estrangeiras sejam nacionais. Não consigo mais acompanhar. Mas destaco totalmente o trabalho de Laudo e Omar em Yeshuah: obra-prima que me emocionou e me fez refletir muito, além dos desenhos que me embeveceram! Também destaco o trabalho do universo pós-humano do amigo-irmão Edgar Franco, o Ciberpajé, e seus Artlectos e Pós-Humanos, e a criatividade das HQs e formatos dos trabalhos de Victor Freundt e Bruno Bispo, dentre os zines de H. Magalhães, E. Guimarães, Denílson Reis e outros. Admiro sempre os autores como Mozart Couto e Shimamoto, bem como a pulsão dos mais novos como Daniel Esteves e Cadú Simões.
Múltiplo: Mini currículo.
Gazy Andraus: Sou atualmente professor designado da Unidade Campanha/MG (UEMG). Lecionei na FIG-UNIMESP de 2005 a 2016 onde também coordenei e ministrei pós-graduação bem como Tecnólogo em Design. Sou membro pesquisador do Observatório de HQ (USP) e ASPAS - Associação dos Pesquisadores em arte Sequencial; bem como da Interculturalidade e Poéticas da Fronteira (UFU); INTERESPE-Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (PUC/SP) e Criação e Ciberarte (UFG). Tenho doutorado em Ciências da Comunicação pela USP (2006) e mestrado em Artes Visuais pela UNESP (1999) e licenciatura plena em Artes pela FAAP (1992). Minha tese “As Histórias em Quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário” (USP, 2006) ganhou o prêmio como melhor tese de 2006 pelo HQMIX em 2007. Considero-me também autor de HQs e zines de temática fantástico-filosófica (como Homo Eternus, Convergência, Fraterimagenes). Como pesquisador, tenho participações em livros (“Histórias em Quadrinhos e Práticas Educativas: o trabalho com universos ficcionais e fanzines” de Elydio dos Santos Neto (que até escreveu um livro sobre minha arte), e, Marta Regina da Silva (orgs.), da Ed. Criativo, 2013); e eventos acadêmicos, coorganizando e apresentando artigos em congressos nacionais e internacionais, como o das “Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos” da USP e o “Aspas – Associação dos Pesquisadores em Arte Sequencial” (ambos terão eventos esse ano), dentre outros. Também sou o idealizador da data comemorativa do dia Nacional do Fanzine que se iniciou desde 2012 (a partir do dia 12/10/1965 quando Edson Rontani lançou o Fanzine “Ficção”). Um detalhe que poucos da área sabem, é que possuo um blog chamado “Consciências e sociedades” em que abordo questões sociais, políticas e até relativas à defesa do consumidor, auxiliando com informações e conselhos baseados em leis, regimentos e CDC – Código de Defesa do Consumidor, mas que vez ou outra também discorro sobre a importância das HQs para a sociedade.
Sites e blogs: http://tesegazy.blogspot.com.br , http://classichqs.blogspot.com.br ; http://conscienciasesociedades.blogspot.com.br ; E-mail: yzagandraus@gmail.com;
Múltiplo: Como você se considera quando falamos de quadrinhos?
Gazy Andraus: Alguém que sempre (mas sempre mesmo), se maravilhou desde pequeno, ao ver aquelas imagens pequenas separadas por retângulos, impressas colorizadas numa revista, num mistério insondável e irrespondível acerca de sua beleza e atração desmesurada cujos desenhos têm exercido em mim fascínio, tanto a meus olhos, como à minha mente!
Múltiplo: O que seria HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: Um tipo de História em Quadrinhos (HQ) cuja mensagem sintetizada traz a reflexão, numa narrativa não linear, similar ao que faz e ao que é um haikai (ou haicai) à literatura, porém, de maneira imagético-textual.
Múltiplo: Pelo que vi em alguns artigos e material de internet, você produziu diversos fanzines. Nos fale um pouco sobre isso.
Gazy Andraus: Meu início de publicação foi pelos fanzines. Assim, é uma relação importante e simbiótica como parte integrante e coroamento de produções de HQs e afins, em que realizo um fanzine autoral ano a ano, no mínimo. Além de participar vez ou outra de outros zines, colaborando com eles no envio de HQs e/ou textos. Os fanzines são imprescindíveis, porque permitem-nos fazer todo o processo, desde a elaboração das HQs à publicação delas e distribuição, como num desenvolvimento alquímico.
Múltiplo: Se considera um pesquisador? Nos conte sobre.
Gazy Andraus: Sim, pois em essência, todos o somos. Porém, alguns enveredam pelo caminho, tentando desvendar questões que pululam em nossas mentes, enquanto que outros não se aprofundam em resolvê-las, atuando na vida de outras maneiras. No meu caso, a instigante saga das HQs e sua intrigante falta de valorização antes atestada pela sociedade, fez-me querer entender a raiz e razão disso, já que via nelas (nas HQs), algo de maravilhoso e importante que não poderia ser mantido em desacordo com seu valor por mim aventado. Esse era um dos tópicos mais importantes que me fizeram singrar a área acadêmica e de pesquisas desvelando as histórias em quadrinhos (ou parte delas) e sua importância num mestrado e doutorado. Ainda assim, não fico estagnado apenas nesse tema das HQs e fanzines, mas me interessa o ser humano em essência, o planeta em que vivemos e o uni-verso e suas imbricações (pois que cheguei até a fazer um curso rápido de astronomia quando cursava artes na UFG em 1986 para 1987).
Múltiplo: Como você separaria a HQ tradicional da HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: O paralelo que traço para que se possa compreender, é relacionar a poesia haicai japonesa à literatura: não é um conto, um romance ou texto descritivo ou uma narrativa épica, mas ainda assim, pertence ao rol da chamada Literatura! Há os que dele gostem (do haicai) e os que não o apreciem. Assim o são as HQs poético-filosóficas (ou fantástico-filosóficas): são geralmente elípticas como nas poesias haicais e há muitos que não lhas gostam, porque suas narrativas não são lineares como as tradicionais histórias em quadrinhos. Mas são HQs, apesar de tudo, assim como haicais são literatura!
Múltiplo: Como foi ganhar o Troféu HQ Mix na categoria “melhor tese de doutorado”? Nos conte sobre o que você fala nesta tese.
Gazy Andraus: Foi um reconhecimento de um trabalho exaustivo e longo, e pelo qual só fui entender e responder o seu cerne no último dos quatro anos do doutorado que levei para finalizá-lo: cursei disciplinas de pós, elaborei artigos para elas, para congressos, fui lendo, relendo, escrevendo, pesquisando, até que consegui entender que a mente é integrada, mas que a depender do input, pode ou não se tornar mais (ou menos) afeita às artes e à apreciação de linguagens como os desenhos. E descobri que é o que aconteceu com a humanidade: ao desenvolver-se muito na racionalidade acabou por atrofiar áreas em atividade do cérebro que reconheceriam intuitivamente as artes e os desenhos (ficando nossa mente preconceituosa), as quais dialogariam melhor com outras regiões atinentes ao pensamento racional e à escrita fonética, o que tornaria a mente mais expansiva na inteligência, equilibrando o uso dos hemisférios cerebrais esquerdo (racional) e direito (criativo), desenvolvendo uma mente integrada, salutar e melhor equilibrada. Descobri isso lendo e estudando ciência cognitiva, e constatando que os experimentos científicos apontavam, por tomografias computadorizadas que, por exemplo, áreas distintas dos hemisférios cerebrais entravam em mais ou menos atividades quando recebiam incentivos: como exemplo, na leitura de imagens e ideogramas, mais porções do hemisfério direito acusavam respostas, enquanto que na leitura de textos (fonemas) havia supremacia do esquerdo entrando em atividade.
Isso tudo criou na nossa mente “cindida”, a racionalidade excludente que gerava o preconceito contra o que ela pensava ser menos importante: no caso, as HQs, por serem imagens, e as imagens à mente racional que lê textos, eram consideradas informação irrelevante, o que é um engodo total que vai caindo década após década, já que tudo é informação necessária, tanto a escrita como o desenho. Porém, a maneira como atuam tais informações em nossas mentes é que se apresenta distinta e necessária para um dialogismo sistêmico e de manutenção amplificada de nossas mentes, que são neuroplásticas - se usarmos, expandem-se, se não, atrofiam-se. Ou seja, se não damos valor às imagens e aos desenhos, e as lemos menos, não conseguimos acionar áreas prontas para se ativar suficientemente e conjugarem-se com outras, deixando-nos até menos criativos. Na educação cartesiana, esse tem sido o maior erro, e os quadrinhos podem ajudar a melhorar, pois são expressões artísticas. Por isso, quando recebi a notícia do prêmio em 2007, fiquei contente, por saber (e confirmar) que fiz um trabalho correto e essencial à área das HQs (e da educação e pedagogia, em especial, universitárias).
Múltiplo: Você faz palestras? Sobre qual tema você trabalha?
Gazy Andraus: Sim, abordando tudo o que discorri anteriormente, mas enfocando para quaisquer áreas adjacentes: se às artes, mostro HQs e afins pertinentes, se à educação, explano a importância das HQs com amostragens, à Pedagogia e Letras idem, e por aí vai. Tanto em escolas, como em cursos universitários de graduação e pós-graduação. Também faço o mesmo com relação aos fanzines e sua essencialidade como parte da liberdade humana de criar e confraternizar com as ideias e expressões artísticas. Minhas palestras e cursos, assim, vão abarcando principalmente desde as artes, HQs, fanzines, ciência cognitiva e mudanças paradigmáticas científico-educacionais.
Múltiplo: Seus quadrinhos limitam-se apenas a HQ poético-filosófica?
Gazy Andraus: Em geral, na atualidade (desde a década de 1990 principalmente), sim. É como uma vontade interna de liberar o processo (principalmente se estou sob a audição de músicas): tem que ser rápido e direto (muitas vezes à tinta, sem esboço prévio).
Múltiplo: Como surgiu essa ideia de produção de HQS?
Gazy Andraus: Foi se tornando natural a partir de uma mescla de estilos baseada na leitura de HQs europeias, em especial de autores franceses como Moebius, Druillet e especialmente Caza. Mas esse processo, que natural, aconteceu não só a mim, como provavelmente a alguns outros, como Edgar Franco, Antônio Amaral, e antes a Henry Jaepelt e Flávio Calazans, mas para certeza com relação a eles perguntando também.
Múltiplo: Desde quando se interessa por HQs?
Gazy Andraus: Desde quando comecei a ler, aos meus 7 anos de idade: então, Disney, Maurício de Sousa, outros autores que não mais estão, como Perotti, Canini etc. Mas na infância, obviamente eu não sabia muito dessas autoralidades, e sim de seus personagens como Mickey, Cebolinha, Gabola, Kactus Kid, dentre outros inclusive estrangeiros que eram publicados no Brasil, como Mortadelo e Salaminho do espanhol F. Ibañez etc. Só na adolescência, aos 12 ou 13 anos em diante é que fui passando aos super-heróis, e depois, no início da maturidade, aos europeus e poéticos.
Múltiplo: Já trabalhou em parceria? Como foi? Gosta deste tipo de trabalho?
Gazy Andraus: Trabalhei e trabalho, embora pouco. Fiz parcerias várias, com Edgar Franco, Feijó, Del Bianco, Cícero, Matheus Moura, Sandro (e até passei um esboço para Jaepelt, que ainda aguardo-o concretizá-lo). Mas as parcerias são raras devido a nossos estilos, que em geral é distinto do mainstream e requer uma autoralidade mais complexa. O meu mais recente trabalho em parceria foi o fanzine “Fraterimagenes”, em que convidei diversos autores para ilustrarem meus poemas, dentre eles, E. Franco, Danielle Barros, Mozart Couto, Beralto, H. Jaepelt, Thaisa Maia e a cor na capa de Silvio Ribeiro.
Ao mesmo tempo, no meu trabalho quando palestro e dou cursos, já trabalhei em parceria, também com Edgar Franco, Márcio Gomes, Fernanda de Aragão, Jorge Del Bianco e até já montei dois grandes eventos de HQs e zines para o Centro Cultural da Juventude de SP, sendo curador, e trazendo nomes como Laerte e Sérgio Macedo, bem como E. Franco, Daniel Esteves, Laudo etc. Para a Gibiteca de Santos, desde 2012 e 2013 venho me juntando a outros co-mo Fabiano Geraldo, Thina Curtis, Fábio Tatsubô, Dani Marino, trazendo o evento anualmente em outubro em comemoração ao Dia Nacional do Fanzine. Integro também a Comissão do Troféu Ângelo Agostini, trabalhando junto de Bira Dantas, Alexandre Silva e Marcos Venceslau dentre outros que premia autores de HQs e fanzines no Brasil, num evento bastante empolgante que ocorre no Memorial da América Latina, perto da data do dia Nacional dos Quadrinhos, em final de janeiro.
Múltiplo: Há quanto tempo você desenha?
Gazy Andraus: Desde criança, como todo mundo. Só que a maioria larga os desenhos conforme vai deixando a infância, devido a várias motivações, mas especialmente o sistema escolar e o sistema social que não veem ainda o valor correto para o ato de desenhar (conforme expliquei na minha tese), sem saber que isso amplificaria a inteligência.
Múltiplo: Já publicou profissionalmente?
Gazy Andraus: Sim. Não muitas vezes, mas já em revistas como Metal Pesado, Heavy Metal Brazilian, Camiño di Rato, e um álbum, o “Ternário M.E.N.” com a Editora Marca de Fantasia. Recentemente saiu um livro meu de desenhos na linha “Sketchbook Custom” da Ed. Criativo (http://editoracriativo.com.br/produtos/exibir/203/gazy-andraus-sketchbook-custom#) e está no prelo outra participação minha na nova série da mesma editora, chamada “Post Art” com desenhos coloridos. A maioria de minhas publicações artísticas está nos fanzines de vários editores (e nos meus), e tenho grande publicação de textos em congressos e capítulos de livros na área acadêmica também.
Múltiplo: Como é o seu modo de criação?
Gazy Andraus: Música! Como não sou músico, arranjei outra maneira de elaborar musicalidade: ao ouvir sons (heavy metal, prog rock, instrumentais etc.), eu despejo no papel de maneira ritmada – ao som do que escuto, que amplifica minha consciência – os desenhos diretamente sem esboços prévios, com textos que vão formando as HQs poéticas. Tenho até um vídeo que apresento isso para uma plateia acadêmica. Veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=k3d_xuog7Uk .
Múltiplo: O que você vê de bom no cenário de quadrinhos Independentes?
Gazy Andraus: Tudo: a criatividade pulsante e pungente, que não tem a ver com o sistema anacrônico oficial, e que engessa tudo para obter lucro com mesmices e repetições à exaustão. Nos fanzines, por exemplo, há a criatividade em títulos e textos, e a prova cabal é o desenvolvimento de um típico quadrinho nacional poético que se consagrou no fanzinato da década de 1990 principalmente e fez história (e ainda continua fazendo).
Múltiplo: Acha que o Quadrinho Nacional teve alguma evolução durante os últimos anos?
Gazy Andraus: Sim, claro. Alguns dos expoentes que estavam no fanzinato, como por exemplo Laudo, mostram sua evolução. Vide seu magnífico trabalho “Yeshuah”. Outros como Edgar Franco ainda mantêm um pé lá e na profissionalização, com sua revista “Artlectos e Pós-Humanos” pela Marca de Fantasia. Roteiristas como Daniel Esteves mostram o valor a que chegaram, incluindo novos expoentes como Bruno Bispo e Victor Freundt.
Múltiplo: Nos fale sobre o que você considera “Fanzines”, uma definição.
Gazy Andraus: Como disse a pesquisadora Zavan em seu texto de 2004 “Fanzine: a pluralidade Paratópica”, é uma revista “paratópica”, ou seja: existe na não oficialidade das editorações, não existindo oficialmente, mas fazendo parte integrante do processo de criação dos que querem e precisam trazer seu universo de criação! Costumo brincar que o fanzine (ou zine) é como a micropartícula da física quântica: esta paradoxal, pois é ao mesmo tempo partícula e onda – enquanto que o zine também o é, já que ao mesmo tempo que existe (não oficialmente), não existe (oficialmente) – logo, é dual, rico e “quântico”. Quando você pensa que o compreendeu, ele lhe foge. Quando você percebe que não vai compreendê-lo, ele lhe vem e lhe pega e te faz lançá-lo como parte de si. Atualmente, o fanzine se divide basicamente em 3 categorias, a meu ver: a do tradicional, publicando artes e textos; a dos que o elevam à categoria de revistas artísticas (e que pedem para chamá-lo apenas de “zine” sem a pecha de “fã”) e os da área da educação ou que servem ao ensino (como os Gibiozines de Hylio, prof. da UFSCAR ou os Peibê de Beralto do IFFluminense).
Múltiplo: Fale-nos um pouco sobre você. Onde nasceu? Sua idade, formação acadêmica…
Gazy Andraus: Nasci em Ituiutaba-MG, como meu conterrâneo Edgar Franco. Mas brinco dizendo que fui “fabricado” no Líbano, e viajei de navio (no útero de minha mãe), vindo a ser “desenvasado” no Brasil, em Minas! Tenho agora 50 anos, mas a energia ainda me remanesce forte! Tenho licenciatura em artes pela FAAP/SP, mestrado em artes pela UNESP/SP e doutorado em Ciências da Comunicação pela USP, mas minha formação inteira é eclética e interdisciplinar (no doutorado falo de fanzines, falo de ciência cognitiva e mudança de paradigma da ciência clássica à quântica que pede contraparte na educação descompassada e anacrônica). Também tenho outras atividades que realizava muito, como caminhadas peripatético-sonoras (andava muito ouvindo músicas e criando na mente, num prazer intenso que atualmente faço menos), e jogo basquete (atualmente também menos devido ao joelho): foi no esporte também que percebi o processo criativo de outra maneira, como o percebia no ato de desenhar. Nas jogadas, o corpo também se comporta criativamente se nos situarmos em uníssono ao momentum... coisa que me era muito difícil no aprendizado (tanto no jogo, como no ato de deitar a caneta e deixar a tinta rolar diretamente e sem esbo-ço prévio, similarmente à atitude que se tem numa ação desportiva após a outra).
Múltiplo: Você começou no mercado independente publicando em zines como Barata, Quadritos e Fantasia Filosófica. Conte-nos um pouco como foi esse início de carreira, se você teve algum empecilho para divulgação de seu trabalho, como foi a aceitação das editoras.
Gazy Andraus: Na verdade, a publicação em fanzines era como quase um imperativo nas décadas de 80 e 90, pois os autores e aspirantes a quadrinhistas no Brasil não tinham outro caminho. E é por isso que agradeço aos fanzines, e a esse tipo de problemática que havia no Brasil: graças a isso, a confraternização zineira se estendeu de norte a sul e leste e oeste indo ao estrangeiro.
Nem tenho como reclamar de editores, porque isso quase não existia para nós. Atualmente vejo outro quadro no Brasil, mas ainda assim, tirando parcos editores comerciais, a maio-ria não dá o valor devido às HQs poéticas, por justamente achar que são inferiores às HQs de narrativas longas, o que é um engano: são distintas, e ambas contendo valores únicos e potentes.
Múltiplo: Com a evolução dos meios de comunicação, prin-cipalmente a internet, está mais fácil hoje um artista conseguir viver de sua arte com a visibilidade que eles poderão alcançar a partir dessas mudanças?
Gazy Andraus: Parece-me que sim. O outro lado da coisa é a pulverização de públicos e ampliação de nichos, o que também contribui para serem menos os leitores, embora mais agrupados. Mas daí volto a lembrar-me que a Internet permite uma difusão maior e mais rápida do que jamais havia antes do advento dela (embora, como falei, alcançando nichos mais subdivididos). De toda maneira, ainda a editoração e publicação em papel é mais forte. Eu mesmo prefiro ler gibis e álbuns de HQs em papel que no monitor.
Múltiplo: Quais são os artistas independentes que você destaca hoje?
Gazy Andraus: Edgar Franco, Bruno Bispo e Victor Freundt, Laudo, Jaepelt, e editores e faneditores como Denílson Reis (Tchê), Clodoaldo Cruz (Cabal), Henrique Magalhães (Marca de Fantasia), Edgard Guimarães (QI), Marcos Freitas (Ed. Atomic), dentre outros.
Múltiplo: Quais são os seus atuais projetos/trabalhos? E os futuros?
Gazy Andraus: Continuar desenvolvendo projetos artísticos/acadêmicos, e me manter criando HQs poéticas, bem como lecionando em cursos universitários. Um de meus projetos atuais são as transposições de desenhos e HQs curtas para a possibilidade de impressão 3D (com o software “3D Build” do Windows 10). Até já fiz um fanzine para isso, o “3D’Imagens”, aventando a hipótese de realizar uma exposição de HQs e desenhos impressos em 3D, futuramente!
Múltiplo: Atualmente, quais HQs nacionais você destaca?
Gazy Andraus: Tenho lido poucas HQs, sejam estrangeiras sejam nacionais. Não consigo mais acompanhar. Mas destaco totalmente o trabalho de Laudo e Omar em Yeshuah: obra-prima que me emocionou e me fez refletir muito, além dos desenhos que me embeveceram! Também destaco o trabalho do universo pós-humano do amigo-irmão Edgar Franco, o Ciberpajé, e seus Artlectos e Pós-Humanos, e a criatividade das HQs e formatos dos trabalhos de Victor Freundt e Bruno Bispo, dentre os zines de H. Magalhães, E. Guimarães, Denílson Reis e outros. Admiro sempre os autores como Mozart Couto e Shimamoto, bem como a pulsão dos mais novos como Daniel Esteves e Cadú Simões.
Múltiplo: Mini currículo.
Gazy Andraus: Sou atualmente professor designado da Unidade Campanha/MG (UEMG). Lecionei na FIG-UNIMESP de 2005 a 2016 onde também coordenei e ministrei pós-graduação bem como Tecnólogo em Design. Sou membro pesquisador do Observatório de HQ (USP) e ASPAS - Associação dos Pesquisadores em arte Sequencial; bem como da Interculturalidade e Poéticas da Fronteira (UFU); INTERESPE-Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (PUC/SP) e Criação e Ciberarte (UFG). Tenho doutorado em Ciências da Comunicação pela USP (2006) e mestrado em Artes Visuais pela UNESP (1999) e licenciatura plena em Artes pela FAAP (1992). Minha tese “As Histórias em Quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário” (USP, 2006) ganhou o prêmio como melhor tese de 2006 pelo HQMIX em 2007. Considero-me também autor de HQs e zines de temática fantástico-filosófica (como Homo Eternus, Convergência, Fraterimagenes). Como pesquisador, tenho participações em livros (“Histórias em Quadrinhos e Práticas Educativas: o trabalho com universos ficcionais e fanzines” de Elydio dos Santos Neto (que até escreveu um livro sobre minha arte), e, Marta Regina da Silva (orgs.), da Ed. Criativo, 2013); e eventos acadêmicos, coorganizando e apresentando artigos em congressos nacionais e internacionais, como o das “Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos” da USP e o “Aspas – Associação dos Pesquisadores em Arte Sequencial” (ambos terão eventos esse ano), dentre outros. Também sou o idealizador da data comemorativa do dia Nacional do Fanzine que se iniciou desde 2012 (a partir do dia 12/10/1965 quando Edson Rontani lançou o Fanzine “Ficção”). Um detalhe que poucos da área sabem, é que possuo um blog chamado “Consciências e sociedades” em que abordo questões sociais, políticas e até relativas à defesa do consumidor, auxiliando com informações e conselhos baseados em leis, regimentos e CDC – Código de Defesa do Consumidor, mas que vez ou outra também discorro sobre a importância das HQs para a sociedade.
Sites e blogs: http://tesegazy.blogspot.com.br , http://classichqs.blogspot.com.br ; http://conscienciasesociedades.blogspot.com.br ; E-mail: yzagandraus@gmail.com;
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