terça-feira, 21 de março de 2017

O BOICOTE EDITORIAL QUE O AUTOR NACIONAL SOFRE

O texto a seguir eu o escrevi no Facebook há algum tempo. Mas, como apareceram novos amigos, desde então, resolvi transcrevê-lo.
O BOICOTE EDITORIAL QUE O AUTOR NACIONAL SOFRE

Desde muito cedo, tive inclinação para a escrita. E, num dia do final de 1944 (foi numa das minhas últimas aulas que tive no antigo curso primário), a professora perguntou aos alunos o que queriam ser quando crescessem. Fui a única nota destoante da classe. Todos respondiam: médico, dentista, advogado, enfermeira, professora etc. Fui o único que disse que desejava escrever. Vi os risinhos dos colegas, o ar de mofa da professora. Mas não me dobrei. Segui o meu sonho. Na verdade, sigo até hoje esse sonho.
Não é nada fácil ser autor em nosso país e ver seu livro publicado.
As grandes editoras só se interessam pelos medalhões (ou então por livros de autoajuda) ou por livros traduzidos (best-sellers que já vêm com propaganda feita em seus países de origem. Best-sellers que são escritos por diversas mãos, apesar de um único nome aparecer como autor. Na verdade, o leitor está comprando gato por lebre, acreditando que está lendo um livro de seu escritor favorito).
O autor nacional, de maneira geral, vê seu livro ser rejeitado. Várias editoras devolveram originais meus numa velocidade… Um editor, inclusive, disse o seguinte, na carta que enviou junto com o original devolvido: “Seu livro é muito bom. Tem grande potencial de venda. Mas, no momento, preferimos lançar traduções. Não gostamos de arriscar com autores nacionais. Agora, se quiser bancar a edição…” Era editor de uma grande editora.
Outro dia, fui a uma grande livraria num centro de compras. Os livros nacionais estavam num cantinho, escondidos. Como querem que esses livros vendam? Como querem que o autor nacional progrida, melhore sua escrita, se não investem neles?
Algumas vezes, leitores reclamam dos livros escritos no Brasil. Falam que não é literatura. Comparam com livros estrangeiros. Mas não sabem que esses atuais livros vindos de fora (sobretudo, dos Estados Unidos) não têm um único autor. São escritos por uma verdadeira equipe. Então, como o autor nacional pode competir com eles? Não pode!
E digo mais: se o leitor nacional não prestigiar o autor nacional, ninguém o fará!
O autor nacional é um verdadeiro herói, que, muitas vezes, tem de custear do seu próprio bolso, a edição do seu livro.
Há muito que deixei de prestigiar grandes editoras. Aliás, sempre fui esnobado por elas. Portanto, não compro nada que elas lançam. Nem sei o que elas editam. Não sei e nem me interessa. Isso se aplica também na área das histórias em quadrinhos.
Meu caminho sempre foi nas pequenas e médias editoras, nas quais pude escrever e lançar o que queria.
E, hoje, continua sendo nas pequenas e médias editoras que meus livros são publicados. Agradeço ao pessoal da Editorial Corvo, da Editora Laços e da Argonautas Editora por acreditarem meu trabalho.


Por Rubens Francisco Lucchetti

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